sábado, 8 de outubro de 2016

A AMIGA JANU E A ÓPERA DAS MEIAS BRANCAS, DE FRANCISCO FILARDI




Madame Filardi, que andava sumida há tempos, veio-me contar a fofoca: Januária, sua amiga de longa data, meteu-se numa encrenca daquelas por causa das meias do marido, Agripino. Ele, que há trinta anos só as usava na cor branca, pôs para lavar alguns pares que de brancos nem a lembrança tinham. Janu, partidária da água e sabão desde sempre, foi perguntar à vizinha Matilda o que fazer para dar um jeito nas peças do vestuário do marido.



- Compre um alvejante, Janu, que resolve! - disse a octogenária.



Janu, que não era nada moderninha, optou por acolher a sugestão da amiga e, já no início da tarde, partiu para o mercado. Mas a dica da esperta Matilda acabou deixando Janu tristinha. E não foi sem motivo. Até que comprar o tal do alvejante foi fácil. Problema mesmo foi quando ela, já em casa, leu as instruções no rótulo do produto. Lá constava que o mesmo deveria ser aplicado diretamente sobre a mancha, por dez minutos, antes de proceder a lavagem. Como as meias do marido estavam para lá de encardidas, Janu mergulhou de tacada oito pares numa bacia com tanto alvejante que dava para clarear todas as roupas do armário do Agripino! E, como desgraça pouca é bobagem, justo nesse momento Janu recebeu o telefonema da Zazá, impertinente tricoteira dos mexericos da terceira idade - logo ela, que escolhia as horas mais ingratas para papear, sem chance de o interlocutor desvencilhar-se de forma educada. Resumo da ópera: papo foi, papo veio, cinquenta minutos de conversa fiada se passaram até que Janu se desse conta de que as meias do marido ainda estavam de molho no alvejante.



Quando a sexagenária chegou à área de serviço e puxou a primeira meia da bacia, levou a mão à testa, ao ver que a sola se desintegrara! Incrédula e com olhos arregalados, Janu exclamaria “Meu Jesus!” dezesseis vezes naquela tarde.



Moral da história: Madame Filardi está gargalhando até agora!!!

(Francisco Filardi)

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