Contato com o autor: Marca de Fantasia
marcadefantasia@gmail.com
Henrique Magalhães
Esse velho conhecido dos cariocas retornou às
bancas a cerca de três anos, porém em periodicidade mensal e apenas
16 páginas, pelo preço módico de R$2,00. Além dos tradicionais classificados, o Balcão traz curiosidades, horóscopo, receitas e também passatempos, como o Caça-Palavras, Ligue os Pontos, Sudoku e Jogo dos 7 Erros.
Seu endereço original no Rio de Janeiro ficava no térreo do prédio da ABI - Associação Brasileira de Imprensa, mas está de endereço novo e atende na rua Rodolfo Dantas, n° 80 loja 14 - Copacabana.
Informações sobre como publicar anúncios de forma graciosa em:
(21)4106-6007 / (21)97749-5514
foto: Francisco Filardi
EG - O quê?
RF - Quando morremos?
EG - O que acontece?
RF - É, o que acontece?
EG - Então, o que acontece quando morremos? Falando por mim mesma?
RF - Por você mesma.
EG - Eu mesma. É esse o problema. É esse o problema com a coisa toda. Essa ideia, “nós mesmos”. Não é essa a ideia. Não é isso, não é… Não é. Como fui esquecer isso? Quando esqueci? O corpo morre célula por célula, mas os neurônios continuam em atividade Pequenos relâmpagos, como fogos de artifício, achei que ficaria desesperada ou com medo, mas não sinto nada disso. Nada disso. Estou ocupada demais. Estou ocupada demais neste momento. Me lembrando. É claro. Eu lembro que cada átomo do meu corpo foi criado em uma estrela. Esta matéria, este corpo é basicamente espaço vazio. E a matéria sólida? É apenas energia vibrando bem devagar, e não há um “eu”. Nunca houve. Os elétrons do meu corpo dançam e se misturam com os elétrons do chão embaixo de mim e do ar que já não respiro. E eu lembro que não existe um ponto onde tudo isso acaba e eu começo. Eu lembro que sou energia. Não memória. Não um “eu”. Meu nome, personalidade e escolhas vieram depois de mim. Eu existia antes deles e existirei depois, tudo o mais são imagens que recolhi pelo caminho. Sonhos fugazes impressos no tecido do meu cérebro moribundo. E eu sou a eletricidade correndo por ele. Sou a energia ativando os neurônios, e estou voltando. Só de lembrar, estou voltando para casa. Como uma gota d’água voltando para o oceano, do qual sempre fez parte. Todas as coisas… uma parte. Todos nós… uma parte. Você, eu, minha menina, minha mãe e meu pai, todos que já viveram, cada planta, animal, átomo, cada estrela, cada galáxia, tudo. Há mais galáxias no Universo do que grãos de areia na praia. É disso que falamos quando dizemos “Deus”. O único. O cosmos e seus sonhos infinitos. Somos o cosmos sonhando consigo mesmo. O que acho ser minha vida é simplesmente um sonho, toda vez. Mas me esquecerei disso. Sempre esqueço. Sempre esqueço meus sonhos. Mas nesta fração de segundo, no momento em que eu lembro, no instante em que lembro, compreendo tudo de uma vez. Não existe tempo. Não existe morte. A vida é um sonho. É um desejo. Feito repetidamente por toda a eternidade. E eu sou tudo isso. Sou tudo que há. Sou o todo. Sou o que sou.
(diálogo entre Erin Greene e Riley Flynn, personagens de Kate Siegel e Zach Gilford, na minissérie Missa da Meia-Noite, dir. Mike Flanagan, 2021 - in: episódio 7 - “Livro VII: Apocalipse”)