Mais um dia do índio chegando, oportunidade para relembrarmos de o Abril Indígena, marcado pela criminalização de líderes indígenas, e refletir sobre a representatividade política de tal povo.
Ao menos 14 cidades brasileiras são administradas por prefeitos ou vice-prefeitos indígenas eleitos na disputa. Outras 88 têm ao menos um vereador indígena. As eleições de 2020 tiveram o maior número de candidaturas indígenas da história: foram 2.217 candidatos nos 5.568 municípios do país, um aumento de 27% em relação a 2016. Os dados são da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A advogada Joenia Wapichana foi eleita, em 2018, deputada federal por Roraima. É a primeira vez, em 190 anos de existência da Casa, que uma mulher indígena ocupa uma vaga na Câmara dos Deputados. Em 1982, o Rio de Janeiro elegeu o Xavante Mário Juruna deputado federal.
No levantamento feito pela Articulação dos Povos e Organização Indígenas do Nordeste (exceto Maranhão), Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e pela Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), nos dez Estados foram eleitos quatro prefeitos, três vice-prefeitos e 76 vereadores. Ao todo são 25 povos representados. Segundo o Movimento Unido de Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), foram 15 vereadores eleitos no Estado, e alguns reeleitos; ainda candidaturas para o Executivo, como Sheilla Payayá, para prefeita de Morro do Chapéu, e o Cacique Alfredo, para vice-prefeito de Porto Seguro. Esse panorama revela que a unidade do voto indígena garantiu êxito nas urnas, mesmo em municípios com população indígena proporcionalmente menor que os coeficientes eleitorais, demonstrando a necessária aliança política em outros segmentos. A luta por igualdade racial e combate ao racismo, inclusive o institucional, exige novas estratégias e se insere num projeto societário democrático.
A ascensão feminina nas organizações indígenas e a formação acadêmica, fruto da política de ações afirmativas, contribuem para o surgimento de novos quadros políticos nas comunidades indígenas. O movimento indígena tem se fortalecido nos embates da luta pelo direito ao território e à identidade, nos acampamentos e tribunais. A repercussão nacional e internacional do genocídio e da omissão da Fundação Nacional do Índio (Funai) se amplia. As mobilizações têm estimulado a participação de jovens, caciques, idosos e mulheres que usam as modernas tecnologias da comunicação. Assim, a história vai sendo passada a limpo, os espaços de poder estão também na pauta indígena e uma efetiva democracia racial segue em construção.
Txai Suruí, de Rondônia, discursou na Conferência de Cúpula da COP26, realizada em Glasgow, na Suécia, e denunciou o aumento desmedido do desmatamento da Amazônia, assim como as invasões das terras indígenas. Txai cursa o último semestre de Direito, tem 24 anos. O Esporte Clube Bahia abriu as portas do seu centro de treinamento, cedendo campos para a realização da 1ª Copa Indígena de Futebol, disputada entre 30 de outubro a 15 de novembro do ano passado, vencida pela equipe Barravelhense, da tribo Pataxó, quando ganhou o jogo por 3 X 0 sobre o Água Vermelha, do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe.
A sociedade construída até então se forjou sobre o hábito de enganar, de corromper e de levar vantagem sempre. Mas há uma terra exuberante, rica como ela só, na qual o cidadão quer trabalhar, alcançar a prosperidade, viver em paz. Urge um pacto para a construção de uma nação, pátria, país chamado Brasil.
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Texto da autoria de Cosme Custódio da Silva (Salvador/BA), editor do informativo cultural O Garimpo, a quem agradecemos a gentileza de nos autorizar a reprodução. Contato com o autor: coscussilva65@gmail.com