Desde seu lançamento em 1994, ainda
sob o título FIFA Soccer, o game de futebol para computadores e
plataformas multimídia Nintendo, Playstation e XBOX, desenvolvido
pela Electronic Arts (EA), vem passando por reformulações anuais,
algumas bem sucedidas outras nem tanto. Joguei quase todas as
edições do título para Playstation e ainda que isso não me faça
especialista no jogo desejo tecer alguns comentários tardios acerca
de minha experiência com o FIFA 19.
Lançado na última semana de setembro
de 2018, o FIFA 19 não trouxe mudanças significativas em relação
ao FIFA 2018. O arranjo do menu inicial do jogo é muito próximo do
de seu antecessor. Novidade mesmo só o terceiro e último capítulo
da novelinha interativa "A jornada" (que acompanha a
carreira do jogador fictício Alex Hunter desde seus primeiros passos
no esporte), as regras alternativas e o modo Division Rivals (que não
é exatamente uma novidade e sim um substituto das temporadas
on-line).
No que tange à jogabilidade, os
iniciantes esbarrarão em alguns pontos críticos. Listei alguns os
quais considero determinantes para fazer o jogador manter-se
admirador da franquia ou debandar para a concorrência.
O primeiro ponto crítico do FIFA 19 é
que os zagueiros adversários quase sempre se antecipam aos
lançamentos longos feitos pelo usuário. O ideal é optar pela
troca de passes curtos, mas, ainda assim, o usuário terá
dificuldades no domínio da bola. Logo que o FIFA 19 foi introduzido
no mercado brasileiro, as equipes adversárias (controladas pela CPU)
faziam uma jogadinha manjada com lançamentos longos e avanço rápido
de seus jogadores de ataque, sobretudo pelas pontas e sempre nas
costas dos laterais do usuário, uma situação difícil de conter.
Apesar de a EA tentar corrigir o problema por meio de patches
(programas de ajuste), nas semanas seguintes, o problema não foi
solucionado de forma satisfatória. No modo carreira, tal situação
se verifica de forma ainda mais grave: os jogadores do time escolhido
pelo usuário não ganham dos adversários nas corridas defensivas,
ou seja, seu poder de recuperação é mais lento que o dos
adversários, sendo difícil para o usuário conter um contra-ataque,
um cruzamento ou mesmo a conclusão para o gol (já havia lido
crítica semelhante em relação ao NBA Live 2018, título de
basquete retomado pela EA após 8 anos de ausência).
FIFA 19 não é um jogo equilibrado,
podendo ser cansativo ou mesmo irritante para usuários ocasionais.
Os passes e lançamentos, mesmo a curtas distâncias, são
imprecisos. Além do que o usuário faz esforço demasiado para
enfrentar adversários que tocam a bola se valendo de tabelas
rápidas, mesmo nos níveis de dificuldade mais baixos. Durante as
partidas, comandar a troca de jogador para a marcação do adversário
que está com a posse da bola também é demorada e qualquer
desperdício de tempo pode resultar num contra-ataque. Mesmo sem
qualquer refinamento nas configurações do jogo, o usuário sofre
com a marcação rígida: há dificuldade para alcançar a meta
adversária, enquanto os jogadores da equipe oponente levam menos de
um minuto para ficar cara a cara com o gol do usuário.
Quando de posse da bola, os jogadores
do usuário não avançam no campo adversário, dependendo do esquema
tático (sobretudo no modo carreira, quando o usuário não tem
controle sobre o técnico do time): ficam quase na mesma linha dos
jogadores de defesa adversários (tornando quase impossíveis os
lançamentos longos) e, também por essa razão, não os superam na
corrida. Outro problema é a realização de tabelas pelo usuário
que, nem sempre rápidas, resultam em jogadores frequentemente na
posição de impedimento.
Na parte defensiva, nem sempre os
zagueiros do usuário pulam na pequena área, com os atacantes
adversários, a fim de interceptar as bolas aéreas; ou seja, o risco
de sofrer gols ridículos (e igualmente irritantes) é considerável.
Os goleiros (que nas versões mais antigas consistiam num dos
problemas críticos da franquia), mesmo com o desempenho melhorado
nessa versão mostram dificuldade para deixar a pequena área e
interceptar eventuais cruzamentos ou escanteios.
Da mesma forma que seu antecessor,
FIFA 19 apresenta sérios bugs na comemoração dos gols. Não raro,
o usuário vê o braço de um jogador passando pelo peito de outro e
por aí vai. Ainda sobre comemorações, há cenas repetidas à
exaustão, a exemplo daquelas em que o artilheiro corre para a marca
de escanteio e chuta a haste da bandeirola. Há opção de variar as
comemorações, mas não é o que um usuário mediano costuma fazer.
Essa variação deveria ser automática.
Outro problema histórico do FIFA é a
arbitragem. A equipe do usuário sofre faltas acintosas não
assinaladas pela arbitragem, mas se algum de seus jogadores somente
"esbarrar" num adversário, o árbitro interrompe a
partida. O FIFA deveria disponibilizar uma forma de o usuário
regular a rigidez do trio de arbitragem.
As cobranças (de tiros livres diretos)
próximas à meta adversária, de algumas edições do jogo para cá,
tornaram-se um suplício. Por mais que o usuário pratique nos
treinamentos, é raro acertar uma cobrança com precisão. Em
outras edições, como na de 2005, o FIFA dispunha de um mecanismo de
cobrança em que bastava ao usuário indicar a direção do chute e
pressionar o botão de disparo uma primeira vez até a barra de
intensidade ficar na cor verde (se esta alcançasse as cores laranja
ou vermelha, o chute se distancia da meta adversária). Feito isso,
caberia ao usuário pressionar o botão de disparo uma segunda vez,
para, aí sim, efetuar a cobrança da falta. Era um procedimento
simples e de melhor precisão, não raro resultando em golaços com a
bola entrando onde “a coruja faz seu ninho”.
Outro ponto negativo do FIFA 19 é que
vários jogadores de ataque da equipe do usuário correm na mesma
direção quando o goleiro adversário está para cobrar um tiro de
meta; da mesma forma, quando o usuário está de posse da bola, no
ataque e em direção à meta adversária, um dos jogadores do
usuário se antecipa à trajetória da bola podendo interceptá-la e
atrapalhar o lance.
A narração de Tiago Leifert e os
comentários de Caio Ribeiro são praticamente os mesmos da edição
2018, o que torna o jogo cansativo após algumas horas de jogo (uma
das melhores narrações da franquia era a mexicana, por conta de
Henrique "perro" Bermúdez e Ricardo Peláez, infelizmente
excluída das versões do FIFA tupiniquim a partir de 2013).
Mais um ponto crítico do FIFA 19 pode
ser verificado no modo “carreira - jogador”. Os jogadores
personalizados (criados pelo usuário) são preteridos pelos técnicos
(não controlados pelo usuário nesse modo). Dependendo da equipe
que defendem, esses jogadores criados são frequentemente
substituídos no intervalo ou no início do segundo tempo das
partidas, ainda que participem dos treinamentos, recebam nota de
desempenho elevada ou mesmo sejam artilheiros da competição. Em
alguns casos, a situação é tão irritante que a saída é
solicitar sua venda ou empréstimo (o que também não é garantia de
solução do problema).
A dificuldade de a EA manter os
contratos com os clubes brasileiros a cada edição do jogo resulta
em equipes genéricas, preservando apenas as camisas e os distintivos
mas não os nomes e características dos jogadores oficiais. Até a
seleção brasileira tornou-se genérica, o que, para nós,
brasileiros, é vergonhoso. Na edição 2018, Corinthians e Flamengo
debandaram para o concorrente Pro Evolution Soccer (PES), da japonesa
Konami. Na versão 2019, Vasco, São Paulo e Palmeiras também
aderiram à debandada (a versão 2020, recentemente lançada, trará,
além dos listados, Atlético Mineiro, Ceará e Fortaleza). Em face dessa dificuldade, a EA poderia facultar aos usuários a edição dos nomes dos jogadores.
O FIFA 19 chegou ao mercado brasileiro
em duas versões físicas: a “standard”, lançada no final de
setembro/2018, como disse, e a versão especial "Champions
League", cerca de um mês depois. Os usuários que aguardaram o
lançamento da versão física "Champions" levaram prejuízo
porque os bônus oferecidos aos usuários que optaram pela aquisição
antecipada do jogo (via download on-line) findaram em 14/10/2018.
Esses bônus consistiram em pacotes de jogadores oferecidos por
determinado número de semanas, empréstimo de grandes jogadores (a
exemplo de Cristiano Ronaldo) e outros itens. Ou seja, os usuários
que optaram por baixar o jogo on-line, além de adquiri-lo por preço
promocional, tiveram vantagem na obtenção dos benefícios extras, o
que necessita de ser revisto pela EA. Quando recebi a versão
"Champions League", em 28/10/2018, meu código de acesso a
tais benefícios já havia expirado há duas semanas. Telefonei para
a EA no Brasil, que me aconselhou absurdamente a trocar o jogo na
loja onde o adquiri, sendo que falávamos de coisas distintas. Ora,
a loja só vende o produto e nada tem a ver com as regras de seus
desenvolvedores. Está claro que o problema é da PSN (Playstation
Network) ou da EA. Quem gera esses códigos? Por que não extendem
o prazo desse "pacote de benefícios" por alguns meses?
Os níveis de dificuldade do jogo
foram escalados da seguinte forma: principiante, amador, semipro,
profissional, internacional, lendário e ultimate. À medida que a
dificuldade aumenta, a capacidade de reação dos jogadores do
usuário torna-se mais lenta (sobretudo no jogo contra a CPU). Quanto
ao modo ultimate, esqueçam, é impossível jogá-lo. Por que criar
uma dificuldade na qual ninguém consegue jogar? Eis outro ponto a
ser revisto pela EA.
Por fim, o FUT (Ultimate Team) é o
modo onde usuários medianos, na esperança de montar equipes
competitivas, gastam seu dinheirinho real para adquirir pacotes com
jogadores igualmente medianos e outros itens de qualidade duvidosa.
Trocando em miúdos, é o modo no qual a EA fatura seus milhões. O
problema crítico do Ultimate Team é que tudo o que o usuário
construiu ao longo de um ano de jogo se perde. O usuário só leva
para a edição seguinte seus pontos de experiência, o que não é
lá grande benefício. Outra situação que deveria ser repensada é
a forma de utilização desses pontos de experiência. A EA só
disponibiliza alguns jogadores para empréstimo e itens para serem
aproveitados nos modos carreira, on-line e FUT (como bolas
customizadas, uniformes clássicos dos grandes clubes da Europa etc)
mas esses itens não são renovados periodicamente.
Para jogadores eventuais ou não
habilidosos, além do desagradável desafio de jogar contra os
“maceteiros” on-line, é raro conseguir jogadores acima da média
nos pacotes do Ultimate Team. Se o usuário for um “heavy user”,
só ao final de uns 4 ou 6 meses disporá de uma equipe de razoável
para boa (se optar por não gastar dinheiro real, claro). Mas, é
bom que se registre: nem mesmo gastando dinheirinho real há garantia
de que o usuário receberá jogadores renomados ou de técnica e
habilidades apuradas para a sua equipe. E, ainda que o consiga, a
notícia triste é que essa equipe tem data certa para acabar.
Não é que a franquia FIFA tenha-se
tornado ruim, mas de alguns anos para cá tem se assemelhado ao
antigo fusquinha da Wolkswagen: a cada ano, introduz um farolete de
seta aqui, a posição do duto para gasolina ali etc, para dizer que
é o "lançamento do ano".
Minha dica é: seja paciente e não
adquira o jogo logo que chegar ao mercado. Aguarde por alguma
eventual promoção na Black Friday (que ocorre em novembro, cerca de
um mês após o lançamento do FIFA) e leia as críticas de revistas
segmentadas para só então tentar a sorte com uma nova versão do
jogo.
(Francisco Filardi)