A
Lapa é um dos mais tradicionais e movimentados redutos da boemia
carioca. Situado na região central da cidade, faz divisa com os
bairros de Fátima e de Santa Teresa, e abriga um formidável polo
gastronômico, com pubs, bares, lanchonetes e restaurantes.
Seu
cartão de visitas são os famosos Arcos, onde, em suas imediações,
estão espaços culturais de relevância histórica, como o Circo
Voador, a Fundição Progresso, a Sala Cecília Meireles e a
Escadaria Selarón.
É
também na Lapa onde se encontra o Contemporâneo, simpático bar e
restaurante que recebeu, na noite da quinta-feira 22/02/2024, a
primeira edição da entrega do Troféu Ação aos produtores
culturais que atuam na divulgação de temas relacionados à
Nostalgia e ao Cinema. O evento foi promovido pelos canais Momento
Nostalgia e Cine Sofá, do YouTube. Na ocasião, Francisco Filardi,
editor de Intervalo Cultural Rio e um dos laureados da noite,
concedeu entrevista ao idealizador, organizador e anfitrião do
evento Sergio Júnior, importante realizador cultural do bairro de
Maria da Graça, bairro da zona norte do Rio de Janeiro.
O anfitrião Sergio Jr. (à direita) e Francisco FilardiPor
problemas técnicos, o áudio da entrevista se encontra prejudicado
em alguns trechos e, por essa razão, disponibilizamos a seguir uma
versão transcrita (em sua maior parte) e comentada, registrando
entre parênteses uma retificação ou um melhor entendimento dos
trechos inaudíveis (quando possível). As notas em negrito são do
entrevistado.
A
ENTREVISTA
Assistam à entrevista no YouTube pelo link Troféu Ação
SJ -
Fazendo diferente, eu já apresentei logo aqui, ó, pessoalmente
aqui: Francisco Filardi, um amigo de longa data. Ele nasceu no dia
03 de outubro de 1965. É um grande estudioso de assuntos culturais.
Ele edita o fanzine aperiódico O Antissocial - eu gosto muito da
temática que ele aborda no Antissocial - e também o fanzine
eletrônico BLEH!; agora, o grande carro-chefe das produções do
Francisco é… - ele chama de fanzine, mas eu gosto de chamar de
revista independente, pela qualidade e pelo conteúdo - que é o
Intervalo, que você lançou no dia 09 de abril de 99. Por que essa
data?
FF -
Bom, não existe uma explicação para a data. O
Intervalo surgiu com uma pegada literária. Na época, eu já me
correspondia com poetas, com escritores, com editores de fanzines e
tabloides voltados para a área de literatura e eu achei a proposta
interessante e resolvi dar a minha contribuição. Agora, o curioso
(inaudível - desse momento inicial da publicação
e que pode causar um certo estranhamento) é que o Intervalo
“nasceu” (sic) voltado para a área de literatura e o título ele
foi... eu nem vou dizer que foi inspirado, ele foi é copiado
descaradamente de uma antiga publicação, que foi uma das primeiras
sobre televisão, que foi a inTerValo - a primeira, se não me engano
foi a Sete dias na TV e inTerValo veio na sequência.
Então, o meu Intervalinho, como eu o chamo carinhosamente, é
uma homenagem a uma das publicações pioneiras no segmento da
televisão.
Nota:
na verdade, existe uma explicação. Melhor dizendo,
Intervalo não foi criado em razão de uma data. Em sua primeira
fase, que durou de 1999 a 2005, a publicação tinha periodicidade
bimestral; a edição inaugural, datada de março/abril
de 1999, já se encontrava em circulação, quando
a edição seguinte, do bimestre
maio/junho, teve seu lançamento antecipado
para abril e foi essa segunda edição que deu entrada para
registro no Escritório de Direitos Autorais, da Biblioteca
Nacional, a 09/04/1999, data que consideramos o marco
zero da nossa publicação.
SJ -
Pôxa, legal. Uma explicação legal. Agora, uma coisa: você
esteve em várias sessões do Clube do Capitão AZA, sessões de
vídeo, agora eu quero saber o seguinte, Francisco, não tô falando
isso porque você está aqui ou porque a gente está filmando para o
programa. Você fez a abordagem mais completa que eu já vi com o
desenho animado Corrida Maluca. Como é que foi para você fazer
esse trabalho tão completo?
FF -
Olha (rs), Corrida Maluca quase me deixou maluco, de verdade. Na
verdade, é uma animação muito enganosa, muito repleta de minúcias.
Na verdade, eu não ia fazer Corrida Maluca, aconteceu por um acaso.
Eu estava com um projeto engatilhado, coisa para dois ou três anos,
só que eu estava na pendência de receber materiais de fora, porque
sai muita coisa (da área da nostalgia) lançada no estrangeiro, nos
Estados Unidos e na Europa, que não chega aqui. Eu não sei porque
as editoras (brasileiras) não têm interesse nesses materiais, mesmo
sabendo que há demanda. Se nós falarmos hoje em nomes como
Hanna-Barbera, é um nome rentável, por incrível que pareça.
Então, eu fiquei com um buraco ali e falei: vou preencher esse
buraco com uma coisa light. Então, eu estava com algumas séries na
estante e comecei a fazer contas: bom, Corrida Maluca, temporada
única, 34 episódios, 12 minutos cada, tirando a abertura e o
encerramento, 9 minutos, achei que ia ser tranquilo. Só que quando
terminei de assistir a série, eu estava com 50 páginas digitadas
com anotações e isso matou o meu esquema inicial, que era o de
entregar volume único. Então, eu tive que parar, repensar o
trabalho, estabelecer um novo plano de obra do qual resultaram 3
volumes, e os encartes foram coisas que aconteceram durante o
andamento do trabalho, porque plano de obra é uma fotografia de
momento, é uma coisa estática, porque quando você começa o
trabalho, você depara com certas questões que você precisa
resolver de imediato ou deixa de lado e lá na frente você vê como
é que fica. Só para você ter uma ideia da complexidade do
trabalho, quando eu fiz a diagramação do segundo volume - que eu
amei trabalhar, que foi sobre o Dick Vigarista -, eu ainda não sabia
o que fazer com a Penélope. Eu tinha duas alternativas: ou eu a
manteria no terceiro volume ou eu faria um encarte sobre ela. Tinha
material sobre (para) isso. Então, é o tipo de coisas que você
tem que ter uma direção e (inaudível).
Nota:
alguns leitores me perguntam porque uma série curta, como Corrida
Maluca, rendeu assunto para 50 páginas em seu primeiro rascunho. A
explicação é simples: uma coisa é estar diante da TV sem
compromisso, com olhos de espectador. É puro divertimento. E a
dublagem brasileira - façamos jus - deu um ganho à animação.
Outra, bem diferente, porém, é estar diante da TV, com olhos de
pesquisador. Aí, a coisa muda de figura, porque pesquisa é
imersão, é esmiuçar os detalhes. Para isso, é preciso estar
no trabalho, é preciso gostar do que se está
fazendo, para que o produto final saia, no mínimo, razoável.
Por essa razão, penso que os leitores de Intervalo, sobretudo o
público das nossas edições especiais (temáticas e que resultam de
pesquisa robusta) merecem o máximo de informação confiável
possível.
Mais
uma: é muito provável que a citação de Penélope tenha ficado no
ar. Penélope Charmosa é uma personagem importantíssima em Corrida
Maluca: é a única do sexo feminino e foi a última a ser desenhada
para a série; por essa razão, é evidente (pelo menos, para mim)
que tenha se tornado o xodó da equipe de desenhistas da
Hanna-Barbera, à época da produção. E essa minha suspeita
encontra eco no fato de que Penélope veio a protagonizar o spin-off
Os apuros de Penélope (que pretendo abordar adiante), logo no ano
seguinte ao término de Corrida Maluca. Além disso, há algo muito
sutil sobre a personagem - descoberto na pesquisa de Intervalo para a
edição especial - o qual será revelado tão somente após o devido
registro em direitos autorais do último encarte de Corrida Maluca,
intitulado Sistemas de Pontuação (tive requerimento inicial
indeferido pelo EDA-BN em 2022, pelo fato de o especialista não ter
compreendido a natureza da pesquisa, ao classificá-la como “jogo”.
Um novo requerimento foi encaminhado neste mês de abril de 2024,
acompanhado de carta explicativa).
SJ -
Agora, só uma dúvida: o quê que a gente pode esperar aí pra
comemoração dos 25 anos de Intervalo?
FF -
Pois é, então anotem na agenda de vocês: dia 09/04/2024, 25 anos
de Intervalo, nós vamos lançar uma edição especial, vamos lançar
o selo comemorativo dos 25 anos, que já está pronto, e nós vamos
lançar uma super promoção, com muitos brindes especiais para
vocês. Dessa vez, a gente não vai fazer sorteio não, vamos fazer
uma brincadeira com os nossos leitores, vamos fazer uma espécie de
gincana. O tema da promoção já está definido, nós vamos fazer
uma proposta, com 3 alternativas e os interessados vão escolher uma
proposta (digo, alternativa) e vão justificar a sua escolha. Então,
nós vamos ter kits de brindes super especiais para quem
participar da promoção. É só ficarem ligados lá no nosso blog e
no canal Momento Nostalgia, que o Sergio, como sempre, muito
gentilmente ele reproduz as nossas iniciativas, e vai ser uma coisa
bem legal.
Notas:
1)
os interessados deverão escolher apenas uma dentre as três
alternativas propostas, em consonância com o regulamento (já
publicado no blog de Intervalo), melhor dizendo.
2)
os kits de brindes serão destinados aos contemplados na
promoção, obviamente.
SJ -
E eu digo para vocês, o Francisco Filardi realmente é um cara...,
como ele é um cara bastante articulado, ele tem conceito com vários
veículos de comunicação, ele é um cara que tá sempre, realmente,
botando essas coisas para sorteio, brindes e tudo mais. Então,
Francisco, pelas suas produções, você também passa a entrar na
galeria aí dos laureados com o Troféu Ação.
FF -
Sérgio, eu gostaria de agradecer a você, agradecer aos espectadores
do canal Momento Nostalgia, agradecer às pessoas que participaram
direta e indiretamente da escolha, por olharem com carinho para o meu
trabalho. Muito agradecido também pela amizade de longa data.
SJ -
É isso aí, quase 30 anos, praticamente. Um abraço, valeu!
FF -
Obrigado!
P.S.:
se algum espectador puder nos auxiliar com os trechos inaudíveis,
agradecemos.
..............
Contemplados
com o Troféu Ação 2024 (em ordem alfabética):
Nostalgia:
Carlos Gomes, Fernanda Furquim, Francisco Filardi (RJ), José Salles
(Jaú/SP), Roosevelt Garcia, e Schmidt TV a Lenha.
Cinema:
Adilson Carvalho, Ana Paula e Paulo Telles.