("Do...
or do not. There is no try." - master Yoda,
in "The Empire
strikes back", 1980)
Quando Guerra nas estrelas
("Star Wars") estreou nos cinemas, em 1977, eu era um
pré-adolescente, com doze anos de idade. Como toda a garotada da
época, fiquei maravilhado com o espetáculo de imagens,
proporcionado pela Lucasfilm e pela Industrial Light and Magic, do
mago George Lucas. O filme foi um divisor de águas no quesito efeitos especiais, para as grandes telas.
"Guerra nas estrelas"
ganharia duas continuações: "O Império contra-ataca"
(1980) e "O retorno de Jedi" (1983), com o mesmo elenco
base. Todos os filmes resultaram em estrondoso êxito de bilheteria,
conquistando milhões de fãs e aficionados em todo o mundo. A saga
renderia ainda um "prequel", com outros três filmes
produzidos entre os anos de 1999 e 2005, sobre a origem da personagem
Darth Vader.
Hoje, com certo distanciamento e
bagagem, encaro a saga "Guerra nas estrelas" como
filmes-pipoca. Mas há um momento, no segundo filme da primeira
trilogia ("O Império contra-ataca"), que merece especial
atenção. É quando Luke Skywalker segue para Dagobah, à procura
de um antigo mestre, de nome Yoda, que o iniciará no aprendizado
Jedi, por recomendação de Obi-Wan Kenobi. Os diálogos entre
mestre e aprendiz são baseados em conceitos espiritualistas, na
sabedoria oriental, na presença de um Ser ou Energia Superior e na ideia de
conexão entre todos os seres vivos e não vivos:
(Yoda) - Há 800 anos, Jedi eu treino.
Cabe a mim decidir quem treinar eu irei. Um Jedi deve
comprometimento profundo ter. Uma mente séria. Este (apontando a
cabeça na direção de Luke), há tempos eu observo. A vida toda
procurou o caminho, o futuro. O horizonte. Sua mente nunca estava
onde ele estava. No que ele estava fazendo. Humpf! Aventura.
Humpf! Diversão. Humpf! Um Jedi essas coisas não cultiva.
Indiferente você é (diz para Luke).
E adverte:
(Yoda) - O poder de um Jedi da Força
flui. Mas, cuidado com o lado sombrio. Ira, medo, agressão... no
lado sombrio da Força estão. Fluem facilmente para unirem-se à
luta. O lado sombrio pode dominar para sempre o seu destino.
Consumirá a sua vontade, como fez com o aprendiz de Obi-Wan (Yoda se
refere a Anakyn Skywalker, pai de Luke, que sucumbiu ao lado escuro
da Força, adotando o nome sith Darth Vader).
(Luke) - Vader... O lado sombrio da
Força é mais forte?
(Yoda) - Não! Mais rápido, mais
fácil e sedutor.
(Luke) - Como saberei a diferença?
(Yoda) - Você saber irá. Quando
estiver calmo, em paz... passivo. Um Jedi usa a Força para
conhecimento e defesa. Nunca para atacar.
(Luke) - Mas por que...
(Yoda) - Não, não há "por
quê". Mais nada eu irei ensinar hoje. Limpe da mente as
perguntas.
....................
....................
Mais adiante, Yoda propõe um desafio
à Luke. Diante de uma caverna escura, o aprendiz dirige-se ao
mestre:
(Luke) - Há algo errado aqui. Sinto
frio. Morte...
(Yoda) - Aquele lugar... forte é,
como o lado sombrio da Força. Pelo mal é dominado. Entrar você
precisa.
(Luke) - O que há lá dentro?
(Yoda) - Só o que levar com você.
Luke caminha em direção à entrada
da caverna e Yoda acrescenta:
(Yoda) - Sua arma... não irá
precisar.
Mas o pupilo desconsidera a
recomendação do mestre e a leva consigo. Luke adentra o ambiente
escuro e em determinada altura vê Darth Vader, a caminhar em sua
direção. Ambos sacam seus sabres de luz e lutam. Luke derrota seu
oponente, cortando-lhe a cabeça. A cabeça de Vader, ao chão,
explode, revelando a Luke a face do mal. Para a surpresa do
aprendiz, é seu próprio rosto que vê sob a máscara.
O desafio, claramente manipulado por
Yoda, recorre a um fundamento do Taiji, símbolo oriental da
oposição Yin/Yang, um sistema de forças em equilíbrio, que atende
ao princípio da homeostase: quando uma dessas forças age para
desequilibrar o sistema, a outra reage imediatamente, no sentido de
repará-lo. Entende-se, no Taiji, que o bem está no
mal e que o mal está no bem. Yoda, na verdade, previne Luke
de que ele possui a semente do mal em si e que não deve ceder à
tentação do lado sombrio, para não sucumbir, como ocorrera a seu
pai.
................
Numa das sessões de treinamento, Luke
apoia as mãos no chão e mantém as pernas erguidas, na posição
"plantando bananeira", tendo Yoda sobre sua perna esquerda.
O mestre o incentiva a fazê-lo com apenas uma das mãos:
(Yoda) - Use a Força. Isso. Agora,
a pedra. (Luke faz uma pedra levitar). Sinta-a.
R2-D2 agita-se. Ao aterrizar em
Dagobah, a nave de Luke estaciona sobre um lodaçal e agora o
androide vê a nave submergir. Luke percebe e desequilibra-se.
(Yoda) - Concentre-se!
Ambos caem.
(Luke) - Agora, nunca a tiraremos de
lá.
(Yoda) - Muita certeza você tem.
(Yoda inclina suavemente a cabeça para a frente). Para você, ser
feito nunca pode. Nunca ouve o que eu digo?
(Luke) - Mestre, levitar pedras é uma
coisa... isso (apontando para a nave) é muito diferente!
(Yoda) - Não! Diferente não é! Só
é diferente na sua cabeça. Desaprender o que aprendeu
precisa.
(Luke) - Certo. Eu tentarei.
(Yoda) - Não! Tentar, não! Faça...
ou não faça. Tentativa não há.
Luke se concentra. Consegue fazer a
nave levitar parcialmente, o que anima Yoda (que arregala os olhos).
Mas o aprendiz logo desiste, para desânimo do mestre. Luke senta-se
ao lado de Yoda e comenta:
(Luke) - Não consigo. É muito
grande.
(Yoda) - O tamanho não importa. Olhe
para mim. Julga-me pelo meu tamanho? Julga-me?
Luke balança a cabeça, timidamente,
em sinal de negação. Yoda prossegue:
(Yoda) - E não deve mesmo. Aliada a
mim a Força é. E poderosa aliada ela é. A vida a cria. E a faz
crescer. Sua energia nos cerca. E nos une. Luminosos seres somos
nós. Não essa rude matéria (belisca o ombro de Luke). Precisa a
Força sentir à sua volta. Aqui. Entre nós... na árvore, na
pedra. Em tudo. Sim. Até entre a terra e a nave.
(Luke) - Você quer o impossível...
Luke se levanta e afasta-se. Apoiado
em um cajado, Yoda ergue lentamente os olhos para o céu. Curva-se.
Concentra-se. Ergue a mão direita na direção da nave e a faz
emergir. Retira-a por completo do lodaçal. R2-D2 se agita e chama
por Luke que, estupefato, presencia a cena. E diz ao mestre:
(Luke) - Eu não acredito!
Ao que Yoda responde:
(Yoda) - É por isso que você não
consegue.
....................
Destaco duas frases do
discurso de Yoda. A primeira, "Desaprender o que aprendeu
precisa", significa que devemos nos desapegar de nossos
pré-conceitos, de nossos preconceitos, de nossa visão míope, do nosso modo verticalizado
de viver e de pensar. Que devemos ousar, experimentar. Que não
devemos sucumbir a medos infundados, aos "grilos" de nossas
cabeças. Que devemos correr riscos. A segunda, "Faça...
ou não faça.", significa que apesar de o caminho
apresentar múltiplas ameaças e oportunidades, não nos deve haver
dúvidas. Decisões não admitem meios-termos. Ou enfrentamos o perigo
iminente ou o evitamos. Ou encaramos a realidade ou morremos por
fantasiarmos o que não existe.
Que a Força esteja com vocês.
(Francisco Filardi)
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