UM PASSEIO
POR ESTRADAS COLORIDAS
(de Francisco Filardi)
Micas é um menino de apenas onze anos de idade. Como toda criança, gosta de brincar e de saber o porquê das coisas. Mas as semelhanças param por aí. Ele não é como a maioria dos meninos de sua idade. Micas percebe o mundo à sua volta com uma sensibilidade própria e até incomum para indivíduos de sua faixa etária. Irrequieto e imaginativo, adora contar histórias sobre mundos de estradas coloridas, repletos de aventuras, mistérios e perigos.
A mãe, Dona Deleide, é sua maior incentivadora. É ela quem
prepara carinhosamente o lanchinho da turma que costuma reunir-se no
quarto de Micas, para ouvir e maravilhar-se com as histórias de seu
filho mais velho. Godofrina, os irmãos Frago e Clarêncio, bem como
Juli, Leopolda e Luma – este, irmão mais novo de Micas -, são
apresentados a um universo
curioso, que se vai descortinando pouco a pouco. “[...]
gosto que me conheçam aos poucos. Igual quando tomo sorvete.”,
diz o anfitrião. E assim iniciam a jornada: aos poucos... Com os
pés no caminho, os meninos encontram um enigmático par de gatos
dançarinos, os quais ronronam seu destemor pela morte
(afinal, gatos têm muitas vidas!); deparam com os intrigantes
bichos-casa,
enormes animais imóveis que mudam de tamanho (será?); conhecem
iguarias exóticas, como os deliciosos feijões
saltitantes, que, entre um engasgo e outro, fazem festinha
no céu da boca; encontram também o não menos exótico povo
cabeça-panela, cheios de receitas e comidas que são um
verdadeiro desafio para quem não sabe cozinhar! E o que dizer do
universo dos espelhos sem
reflexo? Você já ficou diante de espelhos que não
refletem seu rosto? Então, prepare-se! Vaidoso que só, e por
precaução, Micas sempre traz consigo um espelho, mas só ele pode
revelar o porquê. Os meninos conhecem também o falante
planeta silencioso, um mundo onde tagarelice e silêncio
travam um duelo interessante. O que você prefere: a tagarelice ou o
silêncio? Falar, falar? Ou calar, calar? Eis a questão. Por fim,
os lençóis torcedores de
água, os
lençóis-lençóis,
os lençóis-camas-voadoras! Nossa! São tantos mundos
de que nunca ouviram falar! Mas, antes mesmo de colocarem os pés
nessas estradas coloridas e aventurarem-se por esses mundos de
personagens fantásticas, é preciso um cuidado especial: o de
improvisar cabanas com panos coloridos, no quarto de Micas, às
escuras, e portar lanternas acesas. Tudo para acrescentar uma aura
de suspense e encantamento a essas incríveis histórias. Até os
pais dos meninos se interessam em ouvi-las e em participar da
brincadeira!
Mas, não é só isso. Há uma estrada, uma estrada magnífica, por
onde Micas gosta de viajar: a Infinita Estrada Azul, “a
única que não tem fim”. Esse é o caminho que o leva
ao seu universo de sonhos e encantos, de curiosas criaturas e
experiências únicas. Lá, ele se sente confortável e seguro para
explorar suas indagações, experimentar seus medos, ser quem
realmente é. “Sou
convidado a sair do mundo comum e escolho ser transportado para um
mundo muito especial”, ele diz. Quem, afinal, não tem
guardado em si um mundo especial?
Ao longo de “Micas
e a Infinita Estrada Azul”, a autora, Emes de
Fátima, dá pistas de que seu protagonista é bem mais que uma
simples personagem: é seu avesso, seu amor pela família, sua visão
de mundo, sua história de vida. Cabe aos leitores a perspicácia de
um Sherlock Holmes ou o olhar aquilino de um Hercule Poirot para
localizar as pistas e sentirem-se tocados pela alma da escritora. As
influências vão de Lewis Carroll (“Alice no País das
Maravilhas”) e L. Frank Baum (“O mágico de Oz”) a J.K. Rowling
(a saga “Harry Potter”), mas Emes de Fátima se vale de aquarela
própria para pincelar o universo de Micas com tonalidade tal que
resulta em texto leve, capaz de agradar não somente ao público a
que se destina, mas a leitores (adultos-crianças) de todas as
idades.
Nesse livro, Emes de Fátima parte numa jornada de autoconhecimento,
mas é Micas quem a toma pelas mãos e a conduz no passeio pela
Infinita Estrada Azul. Afinal, a realidade é dura e ambos precisam
de um lugar seguro e belo. Como sabemos, felicidade é algo muito
pessoal: “[...]
se todos estão alegres, esse sentimento também me leva para a
Infinita Estrada Azul, e coisas, no mínimo, 'estranhas',
acontecem...”.
No que depender dos leitores, a única “coisa
estranha” que poderá acontecer será Micas
encontrá-los, sob as cabaninhas improvisadas no escurinho do seu
quarto, com as lanternas acesas, à espera de novas e deliciosas
histórias. Aliás, já estamos lá.
Simplesmente sensacional. Orgulho da publicação desta obra singular.
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