sábado, 25 de maio de 2013

SHOW DE INTERPRETAÇÃO DE ANTONIO FAGUNDES E SEU FILHO, BRUNO, LEVA ESPETÁCULO "VERMELHO" A LOTAR APRESENTAÇÕES NO CENTRO DO RIO DE JANEIRO

 
foto: Ivan Abujamra


Em seu ateliê em Nova York, em 1958, o já consagrado artista Mark Rothko recebe pela primeira vez seu novo assistente, Ken. “O que você vê?”, pergunta, apontando para uma das pinturas em que trabalhava. A partir daí, uma bela relação desenvolve-se diante da platéia; um encontro cheio de nuances, em que ambos se permitem indagar e refletir, questionar e ouvir. É esse o ponto de partida do espetáculo Vermelho, dirigido por Jorge Takla, e estrelado por Antonio Fagundes, como Rothko, ao lado de seu filho Bruno Fagundes, que interpreta o jovem aspirante a artista.

Premiadíssimo na Broadway (seis Tonys, na temporada 2010), Vermelho é uma co-produção de Antonio Fagundes e Jorge Takla. 

Escrita pelo dramaturgo e roteirista John Logan, e traduzida por Rachel Ripani, com figurinos de Fabio Namatame, o espetáculo se passa no período entre 1958-1959, quando o pintor russo, naturalizado norte-americano, – que ganhou notoriedade ao encabeçar o Expressionismo Abstrato -, trabalha em uma série de murais para o sofisticado restaurante Four Seasons, no Edifício Seagram, na Park Avenue, encomendados a ele por uma quantia recorde à época.

Vermelho é um olhar carinhoso sobre um grande artista consagrado passando o bastão para uma nova geração de novos artistas inquietos, provocadores e talentosos.  O espetáculo é também um panorama da arte moderna da Nova Iorque dos anos 50, quando mestres consagrados como Rothko, de Kooning e Pollock conviviam com artistas jovens e arrogantes (que não eram levados a sério) como Andy Warhol e Liechtenstein.

Um dos pontos primordiais do texto é a sua universalidade, como aponta o diretor Jorge Takla: 

Enquanto acompanhamos o processo de criação desse grande artista, percebemos um conflito comum a todos nós, criadores: o dilema entre o artístico e o comercial. A relação que existe no palco entre Rothko e Ken observa, de forma carinhosa, a troca entre um artista consagrado que passa o bastão a uma nova geração provocadora que está por vir. Vermelho é uma obra exigente que, como Rothko, nos leva a criar um clima de luzes delicadas, um ambiente suave para valorizar as obras e deixá-las pulsantes e vivas. Aliás, a luz foi um dos desafios da montagem, pois Rothko dizia que uma obra vive por simbiose, ela precisa do olhar empático do observador, e por isso ele tinha que protegê-la, controlando a luz, a altura em que ela está exposta, a distância do observador; senão a obra poderia morrer desprotegida.

O texto vai muito além de uma biografia de Rothko. Se deixarmos o artista falar de sua necessidade de comunicação com a platéia e de sua vontade de descobrir a pureza de sua arte, conseguimos ampliar o alcance do texto mais do que se nos limitássemos a imitar o Rothko, comenta Fagundes. Bruno completa: É interessante como as discussões podem ser lidas de vários pontos de vista, e tocam em outros âmbitos; é uma troca constante e quase inevitável, como se fosse uma necessidade deles, e isso vai revelando as diversas camadas dos personagens aos poucos.

A troca de conhecimentos, no entanto, não se dá apenas na ficção. Pela primeira vez, Antonio Fagundes contracena com seu filho, Bruno. No palco, os atores mostram, também, a intimidade construída no processo de criação de um artista. Preparam e misturam a tinta, esticam a tela, debatem a iluminação ideal para, nas palavras do artista, proteger sua obra de arte. Com muita segurança, Rothko conduz Ken - e a plateia - por um caminho teórico cheio de referências e, ao mesmo tempo, extremamente sensível. 


Sobre o artista Mark Rothko

Nascido no ano de 1903, em Dvinsk, na Rússia, Mark Rothko transferiu-se com sua família para Portland, nos Estados Unidos, com apenas dez anos. Apesar de sua má condição financeira, recebeu ótima educação, ingressando na seleta e tradicional Universidade de Yale, em 1921, e vislumbrando uma carreira política que contivesse seu grande engajamento social. No entanto, dois anos depois abandonou os estudos e partiu para um rumo menos acadêmico, estabelecendo-se em Nova York, em 1925, quando começou a pintar de forma autodidata. 

Mais tarde, estudou a técnica, sob a tutela do artista Max Weber, partindo de um estilo realista – como sua série Subways, de 1930 -, para gradualmente desenvolver seu estilo, passeando pelas formas abstratas da década de 1940, até chegar em figuras abstratas que enfatizavam a cor e a forma. Nos anos 1950, distanciou-se do Surrealismo para se tornar um dos principais artistas do Expressionismo Abstrato, ao lado de Jackson Pollock e Willem de Kooning. Sempre com a preocupação de comunicar e de produzir emoção por meio de suas grandes telas, Rothko evoluiu seu estilo ao simplificá-lo – priorizando a cor e as sobreposições, desenvolveu em sua obra a noção de “campos de cor”, bastante característica daquele momento.

Mesmo tendo abandonado os estudos na Universidade, Rothko considerava fundamental o conhecimento formal: foi profundo conhecedor de filosofia e arte, sendo muito influenciado pela obra de Friedrich Nietzsche. No período entre 1958-59, retratado no espetáculo Vermelho, Rothko trabalhava na série de murais Seagram, obra encomendada para o sofisticado restaurante Four Seasons, em Nova York.

A crise vivida por ele naquele momento culminou na desistência e devolução do dinheiro adiantado pelo trabalho, que hoje encontra-se exposto na Tate Modern, em Londres, na National Gallery of Art, em Washington, e no Kawamura Memorial Museum, no Japão. Além de muito influente como artista, Rothko dedicou-se por décadas ao ensino da arte, lecionando em diversas instituições. Ele suicidou-se em 1970, em Nova York.


Sobre o dramaturgo John Logan

John Logan iniciou sua carreira de dramaturgo em 1985, quando escreveu sua primeira peça, Never the Sinner, em sua cidade natal Chicago (EUA); cinco anos depois, ela foi montada no West End londrino e, em 1998, em Nova York. Após escrever outros textos para o teatro, como Hauptmann e Riverview, um melodrama musical, migrou para o roteiro audiovisual em 1996. 

Com uma carreira muito bem-sucedida no cinema, foi responsável por roteiros de filmes como: Um Domingo Qualquer, dirigido por Oliver Stone, O Gladiador, de Ridley Scott, O Último Samurai, de Edward Zwick, Sweeney Todd, de Tim Burton, e O Aviador, de Martin Scorsese, parceria que se repetiu com A Invenção de Hugo Cabret, que lhe rendeu sua terceira indicação ao Oscar de melhor roteiro. Em Londres para as filmagens de Sweeney Todd, do qual foi também produtor, conheceu os famosos murais Seagram, de Mark Rothko. 

Fascinado pela pequena explicação que acompanhava as obras, pesquisou por um ano a vida, as referências e o legado de Mark Rothko. Foi assim que voltou às suas origens no teatro e criou Vermelho, estreando em dezembro de 2009 no teatro The Donmar Warehouse, em Londres, com Alfred Molina no papel de Mark Rothko e Eddie Redmayne, como Ken. Em março de 2010, a peça foi montada com o mesmo elenco na Broadway, em Nova York, com maravilhosa repercussão, ganhando cinco prêmios Tony, inclusive o de melhor espetáculo. Talentoso e versátil, Logan escreveu, recentemente, o roteiro do longa-metragem da série 007, Skyfall, dirigido por Sam Mendes. 

 
Espetáculo altamente recomendado 
por Intervalo Cultural - RJ


Serviço

Vermelho


Local: Teatro Sesc Ginástico
Temporada: até 16/6, de quinta a domingo
Horários: sempre às 19h

Ingressos: Quinta, sexta e domingo: R$ 5 (associados); R$ 15 (estudantes e idosos) e R$ 30 (os demais). Sábado: R$ 5 (associados); R$ 20 (estudantes e idosos) e R$ 40 (os demais).
Duração: 80 minutos
Classificação: 12 anos

fonte: Omint

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