terça-feira, 27 de dezembro de 2016

OS ANOS 80 ESTÃO DE VOLTA NO CANAL VIVA, EM 2017

 
A partir de 8 janeiro de 2017, o canal VIVA resgata grandes momentos dos anos 1980 com a estreia da série Os anos 80 estão de volta. Em 11 episódios, a atração reúne destaques marcantes da década, em cenários que vão desde a televisão e o teatro até a música e a moda do país. Com direção geral de Darcy Bürger, e direção e roteiro de Guilherme Bryan, o especial foi gravado em 2015.

É uma série em que discorremos sobre todos os pontos interessantes da década. Na minha opinião, é uma geração que deixou um legado enorme para o futuro. É puramente afetivo, é uma série em que me vi nela totalmente, diz Darcy, em depoimento durante a gravação do programa. O produtor e diretor faleceu em agosto de 2016.

Entre os assuntos abordados ao longo dos episódios, fenômenos culturais e de comportamento dos anos 1980: o primeiro Rock in Rio; o surgimento de bandas como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso, que deram uma cara nacional ao rock; o movimento pelas Diretas Já; a criação do grupo teatral "Asdrúbal trouxe o Trombone", que revelou uma geração de talentos; o aparecimento do punk no Brasil; o estouro das músicas para crianças e adolescentes e do gênero "soul à brasileira"; a relevância de Abelardo Barbosa e sua "Discoteca do Chacrinha" e dos videoclipes lançados no "Fantástico"; e a consagração de clássicos da televisão como "TV Pirata" e "Armação Ilimitada".

A série conta com depoimentos de personalidades icônicas da época. André De Biase, Byafra, Dado Villa-Lobos, Diogo Vilela, Elke Maravilha, Evandro Mesquita, Guto Graça Mello, Hamilton Vaz Pereira, Hermano Vianna, Kadu Moliterno, Kid Vinil, Kiko Zambianchi, Léo Jaime, Marcelo Madureira, Marcelo Tas, Michael Sullivan, Miguel Falabella, Nelson Motta, Pedro Cardoso e Sandra de Sá estão entre os convidados.

O que costumo dizer, talvez seja um exagero, mas, depois da Semana de Artes Modernas de 1922 e da Tropicália, a geração 80 foi o último movimento cultural completo que teve no Brasil, além de se viver até hoje, comenta Marcelo Madureira. Durante sua participação no programa, Evandro Mesquita também enaltece a importância da década: Acho que os anos 1980 foram essenciais nessa tomada da juventude de acesso à gravadora, aos teatros. A sair do underground.
 

VIVA - Canal Globosat

Os Anos 80 estão de volta - inédito
Estreia 8 de janeiro

Horário principal (dois episódios seguidos): domingo, a partir das 18h
Horário alternativo (dois episódios seguidos): sábado, a partir das 18h

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

BRAVO, RICARDO!



Ricardo estava feliz. Comprara um apartamento na zona norte do Rio de Janeiro e fora um dos primeiros a habitar o condomínio. A unidade, situada no segundo andar de fundos do terceiro bloco de um prédio sem pilotis, dispunha de dois quartos, sala, cozinha, banheiro social, área de serviço e uma pequena sacada, de onde é possível contemplar o pôr do sol (na zona norte, é lindo).



Apesar do recente divórcio, Ricardo não teve dificuldades em sua readaptação à vida de solteiro e, desde que se instalara em seu novo lar, permitia-se a prática de algo que jamais fizera enquanto casado: andar despido em casa. Mal chegava do trabalho, à noite, livrava-se do terno; relaxava por uns dez minutos sob a ducha morna e metia-se num roupão atoalhado. Mas logo se livrava também deste e circulava peladão pelo apartamento! Dessa forma, ele acreditava gozar da mesma sensação de leveza experimentada pelo primeiro homem a habitar o mundo. Até que...



Em certo fim de tarde, uma senhora e seu cachorrinho pinscher estavam a passear sob a sacada de Ricardo, quando ela, distraída pelo voo de um passarinho, estacionou a mirada justo no segundo andar. E deparou com o vizinho na sala. Pelado. Ele, que não percebera a indiscrição da madame, cantarolava na maior tranquilidade, enquanto seguia nos afazeres domésticos.



Ainda que tenha levado um tempo para recuperar-se do que acabara de ver (!?), a tal senhora não tardou em consignar reclamação no livro do condomínio. Quando o assunto veio à baila, na reunião de condôminos, Ricardo protestou:



- Isso é um absurdo! Vocês pensam o quê? Que sou um exibicionista barato?! Eu tenho direito a ficar pelado naqueles 50m² que me pertencem! O problema é de quem fica sob a minha sacada, a bisbilhotar o que não deve!



Foi uma gargalhada geral. Os condôminos caíram na pele da pobre senhora por considerarem que o assunto não devesse constar no livro de reclamações. Chamaram-na de pudica, mal amada, carola, sem macho e tudo o mais. O repertório variado só ampliava a voltagem da situação. Jarbas, que era o síndico da vez, segurou o riso por baixo do farto bigode, fingindo seriedade, para não constranger a madame. E perguntou a Ricardo se ele tinha o hábito de ficar pelado na sacada.



- Na sacada?! Nunca! Eu só o faço da porta da sacada para dentro! - garantiu o reclamado.

- Certo... certo, Sr. Ricardo, mas diga-me uma coisa: em casa, você faz tudo pelado, pelado mesmo?

- Peladinho da silva!

- Mas... com as cortinas abertas?!

- Parcialmente abertas, para não prejudicar a ventilação, que fique claro! E qual o problema? Estou em meu apartamento!!! - retrucou Ricardo.



Ele, que para 52 de idade era bem conservado e de porte razoavelmente atlético, chegou a ouvir de algumas vizinhas um "aí, Ricardão!" e, de outras, aquele "fiu-fiu!" comprido que lhe massagearam o ego.



Enquanto rolava a algazarra, alguns, dentre os espectadores que ali se divertiam com a inédita discussão, telefonavam de seus celulares para os parentes, insistindo para que descessem ao salão de eventos e não perdessem aquele barraco digno de humorístico de TV.



Mas a apoteose do bafafá foi quando Jarbas perguntou à senhorinha o que aconteceu logo em seguida:



- Eu, eu... - gaguejou a tal.

- "Eu, eu...", o quê? - pressionou o síndico.

- Eu... fiquei paralisada, pois jamais vi tamanho absurdo!

- Mas o que a senhora viu de tão absurdo, a ponto de deixá-la... hã, "paralisada"?

- Aquilo... - respondeu ela, cheia de pudor.

- Aquilo o quê? O penduricalho do Sr. Ricardo? - arrematou Jarbas.



Foi um carnaval. Ricardo, às gargalhadas, foi acompanhado em uníssono pela plateia. O que era drama para a minúscula senhora não passava de comédia para os vizinhos. Ela, a essa altura, já procurava um buraco onde pudesse enfiar a cara.



- Fiquei em estado de choque! - protestou, num arroubo quixotesco. - Como eu poderia mover-me? Nunca vi algo assim, em toda a minha vida!



- Então esse é o problema! - cochichou um dos espectadores para a esposa, ao lado. - Ela nunca vira aquilo! - E ambos riram.



É claro que de nada valeram os protestos da madame. Houve até quem acreditasse que ela estava mais curiosa que indignada. E foi por aí que Jarbas insinuou:



- Mas a senhora, digamos, não teria permanecido sob a sacada do Sr. Ricardo por outra razão?

- Como assim?

- Talvez a senhora tivesse prolongado um bocadinho a sua permanência para ver algo com... maior clareza, já que estava tentando entender a situação.

- Mas que impertinência!!! Eu só estava de olho num passarinho! - disse a madame, sem maldade.



Mas a turma não perdoou, afinal não ficou claro a que passarinho ela estava se referindo. A balbúrdia, óbvio, potencializou e Jarbas, ao lembrar que a indignada era solteirona, emendou:



- Aposto que sim! - disse, dando uma piscadela para Ricardo. Ainda assim, o síndico não sossegou:



- Sabe, madame... a senhora poderia ter corrido, gritado, surtado, desmaiado, qualquer coisa, já que estava apavorada!



- É que... é que... - gaguejou, mais uma vez, a já trêmula senhora.



- "É que... é que...", já entendi, madame! Está encerrada a reunião! - decretou o síndico.



A coitada, jururu que só, deixou o salão de eventos sob uma chuva de gargalhadas e provocações dos vizinhos. Nunca dantes na história daquele condomínio houve outra reunião como aquela!



Bem, o tempo passou, a vida seguiu seu curso, como haveria de ser, e a tal senhora (que nunca mais deu as caras em outra reunião do condomínio) deixou de levar seu cachorrinho para passear sob a sacada de Ricardo que, a propósito, segue circulando peladão em seu apartamento. É pelo seguinte: Jarbas, que era um sacana de primeira, levara o tema à votação daquela plateia inflamada (após a madame deixar o recinto, claro) e, uma vez aprovado por esmagadora maioria e devidamente consignado em ata, deliberou-se que ficar pelado em próprio domínio não configurava prática atentatória à moral e aos bons costumes. Tudo resolvido e todos felizes naquele conjunto habitacional (menos a jururu senhora, claro).



O único "porém" é que, desde a controversa reunião, a plateia feminina sob a sacada do agora famoso vizinho do bloco três vem aumentando de forma considerável. Bravo, Ricardo!

(de Francisco Filardi, finalizado em 19.12.2016)