quinta-feira, 21 de março de 2013

TEXTO DESTACA A RELAÇÃO ENTRE O ADEQUADO TRATAMENTO DO LIXO E A FORMAÇÃO MORAL DO INDIVÍDUO

RESPEITO SERVIDO EM BANDEJAS
(de Francisco Filardi) 


Lembro-me de ter discutido com um colega de turma, na pós-graduação, sobre isso. Não me recordo do fio puxado da meada, mas o estopim da conversa foi ele ter afirmado, de forma categórica, que não recolhia a bandeja, após as refeições, em praças de alimentação de shoppings. Motivos: 1) porque estava pagando; 2) porque lá havia pessoas para tal serviço.

Vejo um problema sério aí: de fato, há profissionais pagos para a manutenção das condições de higiene nas praças de alimentação, mas isso nada tem a ver com deficiência na formação moral. Rastro de sujeira sobre a mesa causa desconforto a quem fará sua refeição em seguida. Nos horários críticos, além da dificuldade de acomodação, é inviável retirar a bandeja de quem anteriormente ocupou o assento. É inviável em qualquer circunstância. O não recolhimento da bandeja é desrespeitoso para com os demais consumidores e para com aqueles que atuam em estabelecimentos comerciais. Significa não pensar no outro e no trabalho do outro.

O fato de “estar pagando”, seja pelo serviço, seja pelo produto, não justifica o desleixo. Não é pelo fato de “estar pagando” a uma empregada doméstica que alguém deva se achar no direito de fazer da sua casa um chiqueiro; não é pelo fato de “estar pagando” ingresso que o cidadão deva se achar no direito de esticar as pernas e pôr os pés na (ou chutar a) poltrona da frente, em teatros e cinemas, ou de arremessar objetos em ginásios poliesportivos e estádios de futebol; não é pelo fato de “estar pagando” impostos que alguém deva se achar no direito de atirar lixo nas calçadas, nas ruas, em terrenos baldios.

A foto que ilustra este texto foi realizada da plataforma dos trens da Supervia, estação Méier. No prédio em frente, situado na rua Arquias Cordeiro, consta a inscrição “vício arriscado”, uma referência à pichação. As “assinaturas” dos pichadores podem ser vistas por toda a cidade, emporcalhando as fachadas dos prédios, poluindo a beleza das construções e entristecendo nossos concidadãos que desejam viver com um mínimo de dignidade, conforto e limpeza. Se considerado isoladamente, esse “vício arriscado” parece inofensivo, mas é a frequência com que ocorre que o torna uma ameaça. O mesmo pode-se dizer sobre o hábito de permitirmos lixo em locais impróprios. Este é também vício – que se torna risco conforme a frequência. E vícios são fenômenos cíclicos, repetem-se e seus efeitos tendem ao ponto de partida: daí a expressão “círculo vicioso”.

Pensemos o seguinte: após a realização de eventos de grande porte, a exemplo do Réveillon, do Carnaval e das Eleições, todos nos condoemos dos garis, tamanha a quantidade de lixo que devem retirar das ruas. Por que não nutrimos o mesmo sentimento em relação aos profissionais que manuseiam quantidades “menores” de lixo, a exemplo daqueles que atuam em shoppings? A natureza e as condições de trabalho são as mesmas; distintas apenas as personagens e o cenário. 
 
Se nós, cidadãos, aprendermos a lidar com o lixo, a cidade não sofrerá com inundações, desabamentos e doenças decorrentes. É uma questão cultural, educacional. De mudança de paradigma, de comportamento. Mais que isso: precisamos considerar o significado da palavra cuidado. Vovó dizia: “quem cuida, ama”. E tudo começa na família. Ao ensinarmos aos nossos filhos que o lixo tem seu lugar devido, estaremos construindo um sistema de valores em que o respeito por si e pelo outro fará A diferença.

Pode não parecer, mas recolher uma bandeja faz diferença.

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