terça-feira, 14 de outubro de 2025

HOMENAGEM A LOURENÇO DE MÉDICI, POR MAQUIAVEL

Aqueles que desejam cair nas graças de um príncipe costumam, o mais das vezes, 

oferecer-lhe os bens pelos quais têm mais estima, ou que imaginam que lhe darão 
maior prazer; daí que muitas vezes ele seja presenteado com cavalos, 
armas, trajes de ouro, pedras preciosas e ornatos de igual valor, 
dignos da sua  grandeza.  Desejando, também eu, apresentar-me 
diante de Vossa Magnificência com  um testemunho da minha vassalagem, 
não pude encontrar em meu tesouro algo mais valioso 
e estimado do que o conhecimento a respeito 
das ações dos grandes homens, adquirido ao longo de vasta experiência 
das coisas modernas e do continuado estudo das coisas antigas; 
tendo, com grande diligência, investigado  e examinado essas ações, 
resumi-as em um pequeno volume, que remeto agora a  Vossa Magnificência.

Apesar de saber ser esta obra indigna da Vossa presença, tenho certeza de que 
benevolentemente a aceitará, ao levar em conta que 
eu não lhe poderia oferecer presente melhor do que a possibilidade de, 
em brevíssimo tempo, aprender tudo  aquilo que eu, no decurso de muitos anos, 
por meio de muitos esforços e perigos, aprendi. 

Não enfeitei nem aumentei este livro com frases longas ou palavras difíceis 
ou  extravagantes, ou ainda com qualquer outro artificio, 
ornamento desnecessário com os quais muitos 
costumam enfeitar os seus escritos; 
e fiz isso porque quis que nada mais o tornasse meritório 
e benquisto senão a amplitude da matéria e a gravidade do assunto. 
Conto que não será considerado presunçoso o fato 
de um homem de classe inferior ousar discorrer e ditar regras 
sobre o governo dos  príncipes; porque assim como os pintores de paisagem
 colocam-se no plano, para observar a natureza dos montes e dos lugares altos, 
e no alto dos montes, para  enxergar melhor a natureza dos lugares baixos, 
do mesmo modo, para conhecer bem a natureza de um povo é preciso ser príncipe, 
e para conhecer bem a natureza de  um príncipe é preciso pertencer ao povo.

Deste modo, receba Vossa Magnificência este pequeno presente
com o mesmo espírito com que eu o envio; trata-se de obra que, 
sendo recebida e lida com  atenção, revelará o meu mais profundo desejo
 - o de que Vossa Magnificência alcance a grandeza que o seu destino
e as suas outras qualidades lhe auguram. E  se Vossa Magnificência, 
do ápice da sua grandeza, alguma vez volver os olhos 
para estes lugares baixos, verá como tenho injustamente sofrido
grandes e  contínuos golpes de má sorte.

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