sábado, 26 de agosto de 2023

FUJONA!


Na segunda metade dos anos 80, ingressei no quadro de concursados do Ministério da Aeronáutica, sendo destacado para a Seção de Datilografia do Serviço de Identificação, onde eram confeccionadas as carteiras de identidade dos militares graduados1 e seus dependentes, dos Oficiais2 e seus dependentes, dos alunos de escolas militares e dos servidores civis.

O prédio do SIDAER, sigla pela qual o Serviço de Identificação era conhecido, situava-se entre o Terceiro Comando Aéreo Regional (III COMAR) e o Aeroporto Santos Dumont, na região central do Rio de Janeiro. Lá, na referida Seção, fui apresentado aos meus novos colegas de trabalho, dentre estes a vedete deste relato, uma também civil que, àquela altura, contabilizava já pouco mais de trinta anos de serviços prestados ao Ministério.

O expediente regular, à época, ia do meio-dia às dezoito, mas a dona Maria José (a nossa vedete), vez ou outra, dava um jeitinho de… escapulir antes do horário.

Certa vez, lá pelas quatro da tarde, a escorregadiça coleguinha passou a mão na bolsa, abriu a porta da Seção e, certa de que não havia alguém à vista, seguiu pelo corredor, na ponta dos pés, até alcançar o hall do único elevador do prédio, de porta pantográfica.

Até aí, o plano foi bem. Só que, para o azar dela, o elevador trazia do térreo ninguém menos que o Tenente-Coronel Aviador Azevedo, chefe da Identificação. Considerando o horário, o local do flagrante e a bolsa nada discreta da Maria José, o Oficial concluiu o óbvio de que a subordinada se encontrava em rota de fuga. Desejoso de saber até aonde iria a cara de pau daquela senhora, o Coronel, cínico, fez que não era com ele:

- Já vai, dona Maria José?

Ela, por sua vez, nem disfarçou:

- Pois é, Coronel. Sabe como é, muita coisa p'ra fazer em casa!

E deu no pé. No dia seguinte, a desavergonhada Maria José reproduziu para os colegas, palavra por palavra, a conversa extraoficial que tivera com o Oficial. E o que se ouviu foi uma uníssona gargalhada de civis e militares do baixo escalão reunidos na sala dos datiloscopistas para ouvir a história.

Mas a coisa não ficou nisso. Além da chacota, que contagiaria todo o efetivo da Identificação, por mais de uma semana, a vacilã Zezé recebeu dos colegas a famigerada alcunha que a acompanharia desde então até seu último minuto no Ministério: Maria Fujona!

Notas

1 Taifeiros, Soldados, Cabos, Sargentos e Suboficiais;

2 Oficiais Subalternos (Aspirantes a Tenente e Tenentes), Intermediários (Capitães), Superiores (Major, Tenente-Coronel e Coronel) e Generais (Brigadeiro, Major-Brigadeiro, Tenente-Brigadeiro do Ar e Marechal do Ar;

Obs.: os nomes (e somente os nomes) citados no texto são fictícios;

Cena pós-créditos

Tínhamos, na Datilografia, um Taifeiro doido que, em outra manobra de fuga da Maria José, esperou até que ela saísse de fininho pelo corredor (deve ter planejado isso por dias); ficou de butuca à porta da Seção e quando a Zezé finalmente alcançou a porta da Secretaria, disparou: “- Até amanhã, hein!

de Francisco Filardi

2 comentários:

  1. Rsrs qual serviço público não tem um fujão ou fujona? Se subtrair do salário acabaria com tal manobra.
    Fica a reflexão.😂

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  2. Muito legal... esta, infelizmente, é comum no funcionalismo público. Santa estabilidade!

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