Passaram por nossas vidas cautelosos,
como quem pisa em almofadas de algodão;
eram capazes de andar no vidro sem quebrá-lo
de roçar uma taça sem derramar uma gota sequer.
Eram sábios: no verão, escolhiam a sombra mais fresca;
no inverno, o calor de nossos corpos adormecidos.
Andavam pela casa deixando uma esteira
de inapreensíveis fibras de ouro ou nácar.
Muitas vezes nos afastaram do nosso lugar,
que também era seu lugar favorito,
e nós, reis destronados e imensos,
fomos nos acomodar - é um modo de dizer -
no mais incômodo assento da casa.
Quantas vezes acalmaram nossa angústia
com o rumor que vibra em sua garganta.
Demos a eles tudo que pediram;
e eles aceitaram
com a majestade de quem nada pediu.
E às vezes éramos dominados pela perplexidade
de ter enfiado em casa uma fera terrível,
uma fera armada de garras e dentes
que, com língua de lixa, penteia sua seda ao sol.
No fim morreram:
apenas um suspiro
e restou um farrapo de pele suave, quase nada,
discretos e dignos
na morte como na vida.
Assim foram nossos gatos
e mesmo agora,
muitos meses depois,
de vez em quando
encontramos
um pelinho de seda em nossas roupas.
(Esteban Villegas)
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