domingo, 10 de novembro de 2019

FIFA 19: MAIS DO MESMO, SÓ QUE UM POUCO PIOR...


Desde seu lançamento em 1994, ainda sob o título FIFA Soccer, o game de futebol para computadores e plataformas multimídia Nintendo, Playstation e XBOX, desenvolvido pela Electronic Arts (EA), vem passando por reformulações anuais, algumas bem sucedidas outras nem tanto. Joguei quase todas as edições do título para Playstation e ainda que isso não me faça especialista no jogo desejo tecer alguns comentários tardios acerca de minha experiência com o FIFA 19.

Lançado na última semana de setembro de 2018, o FIFA 19 não trouxe mudanças significativas em relação ao FIFA 2018. O arranjo do menu inicial do jogo é muito próximo do de seu antecessor. Novidade mesmo só o terceiro e último capítulo da novelinha interativa "A jornada" (que acompanha a carreira do jogador fictício Alex Hunter desde seus primeiros passos no esporte), as regras alternativas e o modo Division Rivals (que não é exatamente uma novidade e sim um substituto das temporadas on-line).

No que tange à jogabilidade, os iniciantes esbarrarão em alguns pontos críticos. Listei alguns os quais considero determinantes para fazer o jogador manter-se admirador da franquia ou debandar para a concorrência.

O primeiro ponto crítico do FIFA 19 é que os zagueiros adversários quase sempre se antecipam aos lançamentos longos feitos pelo usuário. O ideal é optar pela troca de passes curtos, mas, ainda assim, o usuário terá dificuldades no domínio da bola. Logo que o FIFA 19 foi introduzido no mercado brasileiro, as equipes adversárias (controladas pela CPU) faziam uma jogadinha manjada com lançamentos longos e avanço rápido de seus jogadores de ataque, sobretudo pelas pontas e sempre nas costas dos laterais do usuário, uma situação difícil de conter. Apesar de a EA tentar corrigir o problema por meio de patches (programas de ajuste), nas semanas seguintes, o problema não foi solucionado de forma satisfatória. No modo carreira, tal situação se verifica de forma ainda mais grave: os jogadores do time escolhido pelo usuário não ganham dos adversários nas corridas defensivas, ou seja, seu poder de recuperação é mais lento que o dos adversários, sendo difícil para o usuário conter um contra-ataque, um cruzamento ou mesmo a conclusão para o gol (já havia lido crítica semelhante em relação ao NBA Live 2018, título de basquete retomado pela EA após 8 anos de ausência).

FIFA 19 não é um jogo equilibrado, podendo ser cansativo ou mesmo irritante para usuários ocasionais. Os passes e lançamentos, mesmo a curtas distâncias, são imprecisos. Além do que o usuário faz esforço demasiado para enfrentar adversários que tocam a bola se valendo de tabelas rápidas, mesmo nos níveis de dificuldade mais baixos. Durante as partidas, comandar a troca de jogador para a marcação do adversário que está com a posse da bola também é demorada e qualquer desperdício de tempo pode resultar num contra-ataque. Mesmo sem qualquer refinamento nas configurações do jogo, o usuário sofre com a marcação rígida: há dificuldade para alcançar a meta adversária, enquanto os jogadores da equipe oponente levam menos de um minuto para ficar cara a cara com o gol do usuário.

Quando de posse da bola, os jogadores do usuário não avançam no campo adversário, dependendo do esquema tático (sobretudo no modo carreira, quando o usuário não tem controle sobre o técnico do time): ficam quase na mesma linha dos jogadores de defesa adversários (tornando quase impossíveis os lançamentos longos) e, também por essa razão, não os superam na corrida. Outro problema é a realização de tabelas pelo usuário que, nem sempre rápidas, resultam em jogadores frequentemente na posição de impedimento.

Na parte defensiva, nem sempre os zagueiros do usuário pulam na pequena área, com os atacantes adversários, a fim de interceptar as bolas aéreas; ou seja, o risco de sofrer gols ridículos (e igualmente irritantes) é considerável. Os goleiros (que nas versões mais antigas consistiam num dos problemas críticos da franquia), mesmo com o desempenho melhorado nessa versão mostram dificuldade para deixar a pequena área e interceptar eventuais cruzamentos ou escanteios.

Da mesma forma que seu antecessor, FIFA 19 apresenta sérios bugs na comemoração dos gols. Não raro, o usuário vê o braço de um jogador passando pelo peito de outro e por aí vai. Ainda sobre comemorações, há cenas repetidas à exaustão, a exemplo daquelas em que o artilheiro corre para a marca de escanteio e chuta a haste da bandeirola. Há opção de variar as comemorações, mas não é o que um usuário mediano costuma fazer. Essa variação deveria ser automática.

Outro problema histórico do FIFA é a arbitragem. A equipe do usuário sofre faltas acintosas não assinaladas pela arbitragem, mas se algum de seus jogadores somente "esbarrar" num adversário, o árbitro interrompe a partida. O FIFA deveria disponibilizar uma forma de o usuário regular a rigidez do trio de arbitragem.

As cobranças (de tiros livres diretos) próximas à meta adversária, de algumas edições do jogo para cá, tornaram-se um suplício. Por mais que o usuário pratique nos treinamentos, é raro acertar uma cobrança com precisão. Em outras edições, como na de 2005, o FIFA dispunha de um mecanismo de cobrança em que bastava ao usuário indicar a direção do chute e pressionar o botão de disparo uma primeira vez até a barra de intensidade ficar na cor verde (se esta alcançasse as cores laranja ou vermelha, o chute se distancia da meta adversária). Feito isso, caberia ao usuário pressionar o botão de disparo uma segunda vez, para, aí sim, efetuar a cobrança da falta. Era um procedimento simples e de melhor precisão, não raro resultando em golaços com a bola entrando onde “a coruja faz seu ninho”.

Outro ponto negativo do FIFA 19 é que vários jogadores de ataque da equipe do usuário correm na mesma direção quando o goleiro adversário está para cobrar um tiro de meta; da mesma forma, quando o usuário está de posse da bola, no ataque e em direção à meta adversária, um dos jogadores do usuário se antecipa à trajetória da bola podendo interceptá-la e atrapalhar o lance.

A narração de Tiago Leifert e os comentários de Caio Ribeiro são praticamente os mesmos da edição 2018, o que torna o jogo cansativo após algumas horas de jogo (uma das melhores narrações da franquia era a mexicana, por conta de Henrique "perro" Bermúdez e Ricardo Peláez, infelizmente excluída das versões do FIFA tupiniquim a partir de 2013).

Mais um ponto crítico do FIFA 19 pode ser verificado no modo “carreira - jogador”. Os jogadores personalizados (criados pelo usuário) são preteridos pelos técnicos (não controlados pelo usuário nesse modo). Dependendo da equipe que defendem, esses jogadores criados são frequentemente substituídos no intervalo ou no início do segundo tempo das partidas, ainda que participem dos treinamentos, recebam nota de desempenho elevada ou mesmo sejam artilheiros da competição. Em alguns casos, a situação é tão irritante que a saída é solicitar sua venda ou empréstimo (o que também não é garantia de solução do problema).

A dificuldade de a EA manter os contratos com os clubes brasileiros a cada edição do jogo resulta em equipes genéricas, preservando apenas as camisas e os distintivos mas não os nomes e características dos jogadores oficiais. Até a seleção brasileira tornou-se genérica, o que, para nós, brasileiros, é vergonhoso. Na edição 2018, Corinthians e Flamengo debandaram para o concorrente Pro Evolution Soccer (PES), da japonesa Konami. Na versão 2019, Vasco, São Paulo e Palmeiras também aderiram à debandada (a versão 2020, recentemente lançada, trará, além dos listados, Atlético Mineiro, Ceará e Fortaleza).  Em face dessa dificuldade, a EA poderia facultar aos usuários a edição dos nomes dos jogadores.

O FIFA 19 chegou ao mercado brasileiro em duas versões físicas: a “standard”, lançada no final de setembro/2018, como disse, e a versão especial "Champions League", cerca de um mês depois. Os usuários que aguardaram o lançamento da versão física "Champions" levaram prejuízo porque os bônus oferecidos aos usuários que optaram pela aquisição antecipada do jogo (via download on-line) findaram em 14/10/2018. Esses bônus consistiram em pacotes de jogadores oferecidos por determinado número de semanas, empréstimo de grandes jogadores (a exemplo de Cristiano Ronaldo) e outros itens. Ou seja, os usuários que optaram por baixar o jogo on-line, além de adquiri-lo por preço promocional, tiveram vantagem na obtenção dos benefícios extras, o que necessita de ser revisto pela EA. Quando recebi a versão "Champions League", em 28/10/2018, meu código de acesso a tais benefícios já havia expirado há duas semanas. Telefonei para a EA no Brasil, que me aconselhou absurdamente a trocar o jogo na loja onde o adquiri, sendo que falávamos de coisas distintas. Ora, a loja só vende o produto e nada tem a ver com as regras de seus desenvolvedores. Está claro que o problema é da PSN (Playstation Network) ou da EA. Quem gera esses códigos? Por que não extendem o prazo desse "pacote de benefícios" por alguns meses?

Os níveis de dificuldade do jogo foram escalados da seguinte forma: principiante, amador, semipro, profissional, internacional, lendário e ultimate. À medida que a dificuldade aumenta, a capacidade de reação dos jogadores do usuário torna-se mais lenta (sobretudo no jogo contra a CPU). Quanto ao modo ultimate, esqueçam, é impossível jogá-lo. Por que criar uma dificuldade na qual ninguém consegue jogar? Eis outro ponto a ser revisto pela EA.

Por fim, o FUT (Ultimate Team) é o modo onde usuários medianos, na esperança de montar equipes competitivas, gastam seu dinheirinho real para adquirir pacotes com jogadores igualmente medianos e outros itens de qualidade duvidosa. Trocando em miúdos, é o modo no qual a EA fatura seus milhões. O problema crítico do Ultimate Team é que tudo o que o usuário construiu ao longo de um ano de jogo se perde. O usuário só leva para a edição seguinte seus pontos de experiência, o que não é lá grande benefício. Outra situação que deveria ser repensada é a forma de utilização desses pontos de experiência. A EA só disponibiliza alguns jogadores para empréstimo e itens para serem aproveitados nos modos carreira, on-line e FUT (como bolas customizadas, uniformes clássicos dos grandes clubes da Europa etc) mas esses itens não são renovados periodicamente.

Para jogadores eventuais ou não habilidosos, além do desagradável desafio de jogar contra os “maceteiros” on-line, é raro conseguir jogadores acima da média nos pacotes do Ultimate Team. Se o usuário for um “heavy user”, só ao final de uns 4 ou 6 meses disporá de uma equipe de razoável para boa (se optar por não gastar dinheiro real, claro). Mas, é bom que se registre: nem mesmo gastando dinheirinho real há garantia de que o usuário receberá jogadores renomados ou de técnica e habilidades apuradas para a sua equipe. E, ainda que o consiga, a notícia triste é que essa equipe tem data certa para acabar.

Não é que a franquia FIFA tenha-se tornado ruim, mas de alguns anos para cá tem se assemelhado ao antigo fusquinha da Wolkswagen: a cada ano, introduz um farolete de seta aqui, a posição do duto para gasolina ali etc, para dizer que é o "lançamento do ano".

Minha dica é: seja paciente e não adquira o jogo logo que chegar ao mercado. Aguarde por alguma eventual promoção na Black Friday (que ocorre em novembro, cerca de um mês após o lançamento do FIFA) e leia as críticas de revistas segmentadas para só então tentar a sorte com uma nova versão do jogo.

(Francisco Filardi)

Nenhum comentário:

Postar um comentário