No
terceiro episódio do documentário Empire of the tsars,
intitulado The road of revolution, disponível no
NETFLIX, a apresentadora da BBC Lucy Worsley comenta que
"[...]
a Rússia contaria com uma assembleia representativa: a Duma, que
deveria tomar parte na elaboração das leis. Nicolau [Nicolau II, o
último czar russo, da linhagem dos Romanov] insistiu para que a
abertura da Duma Estatal fosse no Palácio de Inverno (em São
Petersburgo, capital na época). E assim, em abril de 1906, a elite
russa ficou cara a cara com o povo, pela primeira vez. Neste lado
(esquerdo) da sala, estava o governo de Nicolau, seus conselheiros,
vestindo uniformes com adornos dourados. Do outro lado (direito),
estavam os membros da nova Duma. Usavam roupas de operários e
camponeses, que eram camisas vermelhas e longas botas rústicas. Os
dois lados se entreolhavam com desconfiança e hostilidade. Era a
hora certa para Nicolau aproximar os desunidos, a fim de que estes se
reconciliassem. Mas não. Ele fez um discurso defendendo seu poder
autocrático. Ele iria conservá-lo, disse ele, com uma vontade
inflexível. No fim do discurso, os conselheiros o saudavam, estavam
encantados. Mas os membros da nova Duma assistiram a tudo num
silêncio tumular".
O czar Nicolau II, sua esposa, Alexandra, suas filhas, as grã-duquesas
Olga, Maria, Tatiana e Anastásia, e o caçula Alexei.
Esse
fragmento é significativo. Governantes têm a oportunidade de mudar
a vida de um povo, a rota de uma nação, mas não o fazem por
estarem atrelados teimosamente a crenças pessoais e a certezas
duvidosas, que neblinam sua capacidade de enxergar o futuro próximo.
Com essa decisão, Nicolau II condenou à morte não só o seu
governo, mas a Rússia, a sua família e os 300 anos da dinastia dos
Romanov, de forma brutal. A História é formada por ciclos. E
ciclos se repetem, para que tenhamos oportunidade de aprender. Ainda
assim, deparamos com governantes que parecem resistir ao aprendizado
da História, recusam-se a ouvir os ecos do passado e a optar por
caminhos alternativos, conciliatórios. O resultado disso não é
difícil de prever: tensões entre governo e povo delineiam um barril
de pólvora prestes a explodir. E, cedo ou tarde, barris explodem. Sempre.
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