domingo, 15 de dezembro de 2013

O NOME DO MESTRE É YODA



 ("Do... or do not. There is no try." - master Yoda, 
in "The Empire strikes back", 1980)

Quando Guerra nas estrelas ("Star Wars") estreou nos cinemas, em 1977, eu era um pré-adolescente, com doze anos de idade. Como toda a garotada da época, fiquei maravilhado com o espetáculo de imagens, proporcionado pela Lucasfilm e pela Industrial Light and Magic, do mago George Lucas. O filme foi um divisor de águas no quesito efeitos especiais, para as grandes telas.



"Guerra nas estrelas" ganharia duas continuações: "O Império contra-ataca" (1980) e "O retorno de Jedi" (1983), com o mesmo elenco base. Todos os filmes resultaram em estrondoso êxito de bilheteria, conquistando milhões de fãs e aficionados em todo o mundo. A saga renderia ainda um "prequel", com outros três filmes produzidos entre os anos de 1999 e 2005, sobre a origem da personagem Darth Vader.



Hoje, com certo distanciamento e bagagem, encaro a saga "Guerra nas estrelas" como filmes-pipoca. Mas há um momento, no segundo filme da primeira trilogia ("O Império contra-ataca"), que merece especial atenção. É quando Luke Skywalker segue para Dagobah, à procura de um antigo mestre, de nome Yoda, que o iniciará no aprendizado Jedi, por recomendação de Obi-Wan Kenobi. Os diálogos entre mestre e aprendiz são baseados em conceitos espiritualistas, na sabedoria oriental, na presença de um Ser ou Energia Superior e na ideia de conexão entre todos os seres vivos e não vivos:



(Yoda) - Há 800 anos, Jedi eu treino. Cabe a mim decidir quem treinar eu irei. Um Jedi deve comprometimento profundo ter. Uma mente séria. Este (apontando a cabeça na direção de Luke), há tempos eu observo. A vida toda procurou o caminho, o futuro. O horizonte. Sua mente nunca estava onde ele estava. No que ele estava fazendo. Humpf! Aventura. Humpf! Diversão. Humpf! Um Jedi essas coisas não cultiva. Indiferente você é (diz para Luke).



E adverte:



(Yoda) - O poder de um Jedi da Força flui. Mas, cuidado com o lado sombrio. Ira, medo, agressão... no lado sombrio da Força estão. Fluem facilmente para unirem-se à luta. O lado sombrio pode dominar para sempre o seu destino. Consumirá a sua vontade, como fez com o aprendiz de Obi-Wan (Yoda se refere a Anakyn Skywalker, pai de Luke, que sucumbiu ao lado escuro da Força, adotando o nome sith Darth Vader).

(Luke) - Vader... O lado sombrio da Força é mais forte?

(Yoda) - Não! Mais rápido, mais fácil e sedutor.

(Luke) - Como saberei a diferença?

(Yoda) - Você saber irá. Quando estiver calmo, em paz... passivo. Um Jedi usa a Força para conhecimento e defesa. Nunca para atacar.

(Luke) - Mas por que...

(Yoda) - Não, não há "por quê". Mais nada eu irei ensinar hoje. Limpe da mente as perguntas.

....................



Mais adiante, Yoda propõe um desafio à Luke. Diante de uma caverna escura, o aprendiz dirige-se ao mestre:



(Luke) - Há algo errado aqui. Sinto frio. Morte...

(Yoda) - Aquele lugar... forte é, como o lado sombrio da Força. Pelo mal é dominado. Entrar você precisa.

(Luke) - O que há lá dentro?

(Yoda) - Só o que levar com você.



Luke caminha em direção à entrada da caverna e Yoda acrescenta:



(Yoda) - Sua arma... não irá precisar.



Mas o pupilo desconsidera a recomendação do mestre e a leva consigo. Luke adentra o ambiente escuro e em determinada altura vê Darth Vader, a caminhar em sua direção. Ambos sacam seus sabres de luz e lutam. Luke derrota seu oponente, cortando-lhe a cabeça. A cabeça de Vader, ao chão, explode, revelando a Luke a face do mal. Para a surpresa do aprendiz, é seu próprio rosto que vê sob a máscara.



O desafio, claramente manipulado por Yoda, recorre a um fundamento do Taiji, símbolo oriental da oposição Yin/Yang, um sistema de forças em equilíbrio, que atende ao princípio da homeostase: quando uma dessas forças age para desequilibrar o sistema, a outra reage imediatamente, no sentido de repará-lo. Entende-se, no Taiji, que o bem está no mal e que o mal está no bem. Yoda, na verdade, previne Luke de que ele possui a semente do mal em si e que não deve ceder à tentação do lado sombrio, para não sucumbir, como ocorrera a seu pai.



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Numa das sessões de treinamento, Luke apoia as mãos no chão e mantém as pernas erguidas, na posição "plantando bananeira", tendo Yoda sobre sua perna esquerda. O mestre o incentiva a fazê-lo com apenas uma das mãos:



(Yoda) - Use a Força. Isso. Agora, a pedra. (Luke faz uma pedra levitar). Sinta-a.



R2-D2 agita-se. Ao aterrizar em Dagobah, a nave de Luke estaciona sobre um lodaçal e agora o androide vê a nave submergir. Luke percebe e desequilibra-se.



(Yoda) - Concentre-se!



Ambos caem.



(Luke) - Agora, nunca a tiraremos de lá.

(Yoda) - Muita certeza você tem. (Yoda inclina suavemente a cabeça para a frente). Para você, ser feito nunca pode. Nunca ouve o que eu digo?

(Luke) - Mestre, levitar pedras é uma coisa... isso (apontando para a nave) é muito diferente!

(Yoda) - Não! Diferente não é! Só é diferente na sua cabeça. Desaprender o que aprendeu precisa.

(Luke) - Certo. Eu tentarei.

(Yoda) - Não! Tentar, não! Faça... ou não faça. Tentativa não há.



Luke se concentra. Consegue fazer a nave levitar parcialmente, o que anima Yoda (que arregala os olhos). Mas o aprendiz logo desiste, para desânimo do mestre. Luke senta-se ao lado de Yoda e comenta:



(Luke) - Não consigo. É muito grande.

(Yoda) - O tamanho não importa. Olhe para mim. Julga-me pelo meu tamanho? Julga-me?



Luke balança a cabeça, timidamente, em sinal de negação. Yoda prossegue:



(Yoda) - E não deve mesmo. Aliada a mim a Força é. E poderosa aliada ela é. A vida a cria. E a faz crescer. Sua energia nos cerca. E nos une. Luminosos seres somos nós. Não essa rude matéria (belisca o ombro de Luke). Precisa a Força sentir à sua volta. Aqui. Entre nós... na árvore, na pedra. Em tudo. Sim. Até entre a terra e a nave.

(Luke) - Você quer o impossível...



Luke se levanta e afasta-se. Apoiado em um cajado, Yoda ergue lentamente os olhos para o céu. Curva-se. Concentra-se. Ergue a mão direita na direção da nave e a faz emergir. Retira-a por completo do lodaçal. R2-D2 se agita e chama por Luke que, estupefato, presencia a cena. E diz ao mestre:



(Luke) - Eu não acredito!



Ao que Yoda responde:



(Yoda) - É por isso que você não consegue.



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Destaco duas frases do discurso de Yoda. A primeira, "Desaprender o que aprendeu precisa", significa que devemos nos desapegar de nossos pré-conceitos, de nossos preconceitos, de nossa visão míope, do nosso modo verticalizado de viver e de pensar. Que devemos ousar, experimentar. Que não devemos sucumbir a medos infundados, aos "grilos" de nossas cabeças. Que devemos correr riscos. A segunda, "Faça... ou não faça.", significa que apesar de o caminho apresentar múltiplas ameaças e oportunidades, não nos deve haver dúvidas. Decisões não admitem meios-termos. Ou enfrentamos o perigo iminente ou o evitamos. Ou encaramos a realidade ou morremos por fantasiarmos o que não existe.



Que a Força esteja com vocês.



(Francisco Filardi)

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