domingo, 27 de outubro de 2019

A APROVAÇÃO DOS PAIS, INDEPENDENTE DA IDADE


por Ciça Silveira*

Dos muitos filmes a que assisti, chama a minha atenção uma das últimas cenas do filme “O sexto sentido” (1999) em que o menino Cole relata para a mãe que sua avó falecida se orgulha da filha todos os dias.

Se prestarmos atenção, tal cena irá variar em muitos filmes, mas sempre com a mesma questão: se nossos pais se orgulham de quem nos transformamos ainda que não tenhamos realizado o que sonharam para nós.

Levaremos no peito essa dúvida e dor atroz, principalmente se na força e coragem de nosso caminho singular tivermos a certeza de que trilhamos o contrário do que nossos pais sonharam.

Levaremos a dúvida eterna: "será que conseguem me amar, apesar de tanta diferença?".

Creio que amar o diferente é doloroso para os dois lados: o orgulho daqueles que não abrem mão do que desejavam para o filho, julgando ser o melhor para este, e do outro lado, o filho que não perdoa o julgamento daqueles cujo maior papel seria o de acolher e de apoiar.

Essas intolerâncias criam abismos, julgamentos cruéis, dores emocionais desnecessárias, desabonos de condutas, palavras ásperas, competição sem sentido, desprezo e, finalmente, indiferença.

É triste para ambos os lados a indiferença.

Entretanto, observo que, quando o amor não fala mais alto que o orgulho e a razão, passamos anos esperando por um abraço de reconciliação, pela frase que acolhe e confirma o quanto (e se) somos amados, e que, seja como for, nossos pais se orgulham de nós por existirmos e por existirmos do nosso jeito: do jeito que nascemos para ser, do jeito que desejamos ser.

Que possamos enxergar nossos filhos como seres humanos diferentes de nós, com expectativas próprias e que possamos apoiá-los em suas decisões.

Que tenhamos a chance de ouvir que somos amados pelos nossos pais e de saber que nossas qualidades são vistas, admiradas e apreciadas.

O acolhimento na alma será libertação imediata para a leveza do amor familiar.

Ciça Silveira é graduanda em Psicologia.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

HERANÇA MALDITA

 Resultado de imagem para imagens Zorro Isabel Allende

"A infância é uma época desastrosa, cheia de temores infundados, como o medo de monstros imaginários e do ridículo.  Do ponto de vista literário, não tem suspense, já que, salvo exceções, as crianças são um pouco insossas.  Além disso, carecem de poder, os adultos decidem por elas e o fazem mal, inculcando-lhes suas próprias ideias equivocadas acerca da realidade, e depois os filhos tềm de passar o resto das suas vidas tentando livrar-se delas". 

(Isabel Allende em "Zorro - começa a lenda", 2006, Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, tradução de Elisa Amorim - pág. 105/106).

terça-feira, 1 de outubro de 2019

"O MUNDO POR UM FIO" (1973), DIRIGIDO POR RAINER WERNER FASSBINDER: UM DOS PILARES DE "MATRIX"





Você não pode gastar vários anos acrescentando dados a um computador que possibilita a simulação de todos os aspectos do comportamento humano sem perguntar a si mesmo se isso não levará a criação de algo semelhante à consciência humana.



(Franz Hahn, personagem de Wolfgang Schenck em “O mundo por um fio”, dirigido por Rainer Werner Fassbinder 1971, baseado no livro “Simulacron-3”, de Daniel F. Galouye, publicado em 1964)



Ele [Simulacron] não é um computador no sentido convencional, mas um sistema eletrônico de simulação com uma capacidade enorme de memória. […] Com esse sistema, obteremos um salto qualitativo para um computador autônomo. Criamos um mundo artificial em miniatura, feito de arautos, interruptores, reflexos e pulsos eletrônicos. Quando completamente funcional, ele levará uma vida própria, de acordo com as nossas regras e com suas próprias dinâmicas. No momento, temos cerca de nove mil das chamadas unidades de identidade, cada qual com as faculdades de percepção, pensamento, memória, imaginação e, assim por diante, de um humano de verdade. Com o Simulacron, temos em algumas palavras um pequeno universo idêntico ao nosso.


(Fred Stiller, personagem de Klaus Löwitsch, no mesmo filme)