quarta-feira, 15 de novembro de 2017

PATETA, O FILME: UM DOS MELHORES DA DISNEY


Dirigido por Kevin Lima e produzido por Dan Rounds, o longa Pateta, o filme (1995) é um dos títulos mais interessantes da Disney. Trata do chamado choque de gerações, que expressa nada mais que a ausência de diálogo saudável entre pais e filhos.


Pateta é um pai à moda antiga, quadradão e saudosista; é também afetuoso e dedicado ao seu filho, Maximilian, adolescente que, por sua vez, não compreende os cuidados do pai. Max sente-se envergonhado e tem verdadeiro pavor de parecer-se ao pai. O garoto está apaixonado por Roxane, uma colega de escola, a quem tenta impressionar durante uma reunião de alunos, no auditório do grêmio estudantil da escola onde estudam. Max e seus amigos, Bobby e P. J., este filho de João Bafo de Onça, montam um verdadeiro aparato nos bastidores, cheio de música e efeitos especiais para que Max leve adiante o plano de impressionar a garota. Ele se veste como Powerline, ídolo pop da garotada, invade o palco e interrompe o discurso enfadonho do diretor Mazur com uma dublagem que faz os alunos pirar. Roxane sente que o dublê encena para ela. Mas a alegria de Max não dura; o diretor despluga a tomada dos aparelhos e ele é desmascarado. Os alunos se surpreendem e Roxane se encanta com a ousadia de Max.

Pateta trabalha como fotógrafo de crianças, numa loja administrada por João Bafo de Onça, seu chefe. Bafo, invejoso do sentimento que Pateta nutre pelo filho, mente afirmando que P. J. lhe pediu para ambos acamparem nas férias de verão.

- Nada como a natureza para fortalecer os laços entre pai e filho! - diz o invejoso.

Pateta alega que Max não aceitaria algo assim, afinal todo pai conhece o próprio filho. Bafo insinua que há algo errado quando os filhos não querem ficar com os pais, pois ficando soltos podem se tornar delinquentes, podem roubar e meter-se em confusões. Ao que Pateta se opõe e defende o filho, sem saber ainda da confusão que Max aprontou na escola.

Bobby e Max encontram-se na antessala do diretor Mazur (a essa altura, P. J. já conversa com o diretor) e Max diz achar-se um fracassado, por não conseguir confessar seu amor à Roxane. P .J. sai da sala do diretor, dizendo que está ferrado e que seu pai vai matá-lo. Chega a vez de Bobby conversar com Mazur e Max fica só na antessala, com o rosto enterrado entre as mãos. É quando chega Roxane, que o vê e vai falar com ele. Diz que gostou da apresentação improvisada no auditório. Ela aceita o convite de Max para irem à festa que será organizada pela colega Stacey, na semana seguinte, na qual será transmitido o show do Powerline, direto de Los Angeles. Ele fica nas nuvens com o "sim" da amada.

Nesse meio tempo, Mazur telefona para Pateta, queixando-se seriamente de Max e criticando a forma como ele cria seu filho. Diz que a coisa é tão grave que Max pode parar na cadeira elétrica. Um exagero descabido, claro. Mas que surte em Pateta efeito devastador. Ele fica preocupado com o comportamento do filho, com as palavras do diretor que não lhe saem da mente e acaba por remoer o que Bafo lhe dissera sobre a natureza fortalecer o relacionamento entre pai e filho. E decide sair de férias, para pescar com Max.

Depois de sua apresentação como Powerline, Max se torna popular na escola. Passa a ser admirado pelos colegas e pensa estar "bem na fita" com Roxane. Crê que rolará o lance do baile com ela, mas quando Pateta lhe revela seus planos para as férias, Max não acredita. E desmaia. Além da pescaria no Lago Destino, os planos de Pateta incluem fazer o mesmo percurso, as mesmas paradas e usar o mesmo mapa da viagem que fez com o avô de Max. O garoto não deseja ficar isolado do mundo, não compartilha dos mesmos valores do pai e, por isso, não dá a mínima. Ambos discutem:

- Eu já tenho uma festa para ir e... - protesta Max.

Mas Pateta o obriga a ir.

- Por que está fazendo isso comigo, pai? - acrescenta Max, com a pergunta que vale para todos os pais.

- Porque eu não quero que você acabe numa cadeira elétrica. - responde Pateta, influenciado pelo exagero de Mazur. E conclui: - Não quero saber de desculpas. Seu pai sabe o que é certo.

Antes de partirem em viagem, Max diz a Pateta que precisa falar com uma pessoa e param o carro diante da casa de Roxane. O garoto cancela a ida à festa, mas ao saber da intenção de Roxane de encontrar outra pessoa para levá-la, Max pensa rápido e mente dizendo que seu pai o está levando ao show do Powerline, em Los Angeles. Ela acha estranho, pois eles terão que atravessar o país. Max aumenta a mentira, dizendo que seu pai conhece o cantor e que ambos tocaram juntos numa banda. Promete até acenar para ela, na TV, quando estiver no palco com Powerline. Ela engole a mentira e promete não ir com outra pessoa à festa.

Na estrada, Max está deprimido. Pateta tenta puxar conversa, mas Max põe no toca-fitas um rock, para não ter que ouvir ou falar com o pai. Pateta substitui a fita por uma de suas preferidas, que sempre ouvia quando viajava com o avô de Max. Ambos, Pateta e Max, se alternam seguidamente no controle do toca-fitas, até que o aparelho danifica. Ficam sem música e Max se vê obrigado a aturar a cantoria do pai. Ele só pensa em Roxane.

Ao longo da viagem, o que é curtição para Pateta é tremenda tortura para Max. Param na estrada para assistir a um espetáculo de gambás mecânicos, o que o garoto odeia, sente-se ridículo com as manias do pai e ridicularizado pelos nativos. Max explode de raiva e Pateta fica magoado. Deixam o local sob forte chuva. A tempestade não vem ao acaso. Expressa o clima entre pai e filho. À noite, Pateta arma a barraca para acamparem perto de um lago. Max, entristecido, brinca com a água e vê a imagem de Roxane refletida. Pateta o interrompe e convida o filho para ensiná-lo a pescar. Max rechaça a investida do pai e afasta-se.

Nesse momento, Bafo chega em seu trailer, tão cheio de recursos quanto um canivete suíço. Desdobra-se em múltiplas diversões, o que impressiona Max. P. J. está com ele, mas ainda no interior do trailer, com um aspirador de pó nas mãos e o som do Powerline nas orelhas. Max diz a P. J. que o amigo tem sorte, mas este responde que Max é a estrela, afinal está indo para o show do Powerline - o que toda a escola está sabendo. No entanto, Max confessa ao amigo que há uma pessoa que ainda não sabe disso: Pateta!

No lado de fora do trailer, Bafo e Pateta jogam boliche, enquanto conversam (vejam só!). Bafo pergunta maliciosamente a Pateta a quantas anda o comportamento de Max. Pateta se queixa, pois não consegue se aproximar do filho. Bafo diz a Pateta que ele tem que demonstrar autoridade, senão o garoto acaba como um degenerado, o que o faz lembrar-se das palavras do diretor Mazur. E Bafo dá uma demonstração. Faz um arremesso e derruba nove pinos. Grita por P. J., que aparece num piscar de olhos, para derrubar o pino restante. Bafo comemora como se tivesse ganhado um campeonato nacional. Mas o pobre P. J. não esconde seu constrangimento, diante dos indignados Pateta e Max. Bafo os convida para jantar, o que agrada a Max, mas Pateta recusa, alegando que já tinha combinado de pescar com o filho. Max retruca, dizendo que podem pescar na manhã seguinte, dando sinal de que deseja jantar. Bafo cutuca Pateta, acenando para que mostre autoridade. Pateta ordena que Max pegue suas coisas, para irem pescar, e o garoto o obedece, contrariado. Bafo e Pateta confraternizam a vitória com uma piscadela e os polegares erguidos em sinal de positivo.


Pateta ensina Max a pescar, simula a coreografia para um arremesso perfeito, algo que aprendeu com seu pai, quando tinha a idade de Max. Só que o arremesso não é tão perfeito quanto Pateta pensa. O anzol fisga um bife de churrasco da grelha de Bafo, que está a preparar a comida não longe dali, e o arremesso acaba, na direção oposta, aos pés do Pé Grande, que morde a isca. Está armada a confusão. Pateta segura firme a vara e luta furiosamente com o que pensa ser um peixe. Ele e Max filmam a luta até que encontram a perigosa criatura no fim da linha, preso ao anzol. Ambos fogem, num galope. Até Bafo avista o Pé Grande, desmonta seu trailer em tempo recorde e dá no pé com P. J.. Pateta e Max são perseguidos e trancam-se no carro. Enfurecido, o Pé Grande balança o veículo, toca o terror, mas afasta-se ao perceber algumas caixas cheias de quinquilharias, fora da barraca de acampamento. Há muito com o que se distrair ali.

O Pé Grande não se rende ao sono. Fica entretido com as bugigangas. Pateta ouve um ronco e pergunta a Max se aquilo foi seu estômago ou a criatura. Max diz que está faminto. É quando uma lata de sopa aterrissa no capô do carro, com a bagunça do Pé Grande. Pateta abre a janela do carro e tenta pegar a lata. O Pé Grande percebe e corre em direção ao carro, para desespero de Max, que grita para o pai fechar a janela. A criatura colide com o carro e, no choque, alguns objetos são arremessados ao ar e cai em suas orelhas um fone de ouvido que toca Stayin' alive, dos Bee Gees! O Pé Grande gosta e dança, imitando os passos de John Travolta, em Os embalos de sábado à noite. Simplesmente hilário!

Pateta usa o queimador de cigarros para aquecer a sopa. E começa a rir. Lembra-se de algo que Max fazia quando pequeno. Ele costumava usar as letrinhas do macarrão da sopa para formar Oi, papai, Maxie, Prometo obedecer ou Amo você. Ambos rememoram, com discreto entusiasmo. E fica um constrangimento no ar. Max desconversa perguntando ao pai se podem tomar a sopa. Pateta abre a lata com os dentes, o que impressiona o garoto. Ele pergunta onde o pai aprendera aquilo. Pateta responde que foi com seu pai (avô de Max), quando viajaram para Yosemite. Max pergunta:

- Vocês eram muito unidos, não é?

De certa forma, quebraram o gelo. Fica implícito que Max entende aonde o pai queria chegar com aquilo.

O Pé Grande se acomoda sobre o carro para dormir e Pateta diz a Max para fazerem o mesmo, pois não teriam como prosseguir. Antes de o fazerem, Max escreve Oi, papai com as letrinhas da sopa e mostra o escrito a Pateta, que se emociona.

Max não consegue dormir. Seu pai e o Pé Grande roncam ruidosamente. Ele pega um papel, rabisca algumas linhas para Roxane e lembra-se do show em Los Angeles. Entra em conflito sobre dizer a verdade, ou não, a ela. Fica nervoso e chuta acidentalmente o porta-luvas do carro, que se abre e estende o mapa da viagem diante de si. Max analisa o trajeto, passa uma borracha no percurso original e altera a rota para Los Angeles. Rasga o bilhete rabiscado para Roxane e tudo o que resta é a frase Eu menti.

Na manhã seguinte, Pateta e Max chegam a uma lanchonete de beira de estrada, para o café. Max permanece calado, tendo ao seu lado, na mesa, o mapa da viagem e as chaves do carro. Pateta o observa e pensa que Max está chateado por outra razão. Toma o mapa nas mãos e diz ao filho que precisam conversar sobre aquilo. Max encolhe-se na cadeira, imaginando que o pai descobrira a farsa. Mas Pateta prossegue dizendo que Max precisa de responsabilidade e o incumbe de ser o navegador oficial da viagem, confiando ao filho a incumbência de guiá-los pelo mapa. Uma prova de total confiança.

Com direito exclusivo sobre o mapa e a rota alterada na noite anterior, o humor de Max melhora sensivelmente. Passa a curtir os momentos junto ao pai. Fazem diversas paradas divertidas, até à noite, quando param num hotel de beira de estrada. Bafo entra em cena, novamente. Bate à porta do quarto, onde se encontram Pateta e Max, simulando uma batida policial. Tremendo mau gosto. Passado o susto, Pateta e Max brincam entre si, provocando-se sobre quem ficara com mais medo. Bafo se surpreende com o entrosamento. Invejoso, Bafo puxa Pateta para o canto e diz para que não se engane com a conversa de amiguinho e que use sua autoridade. Por fim, pede a Pateta para conectar seu trailer ali, o que demorará um pouco. Enquanto Pateta o ajuda, Max e P. J. permanecem no quarto do hotel. Max conta ao amigo o que fez no mapa e Bafo, à porta, ouve a conversa. E vai ter com o Pateta. Introduz o assunto, pelas bordas:

- Então, parece que você e seu filho estão se entendendo muito bem...

Pateta confirma e diz que as técnicas aconselhadas por Bafo não funcionaram. Bafo não se intimida e prossegue:

- Então, vocês não têm mais problemas, não é? Ah, eu detesto dar más notícias, mas seu filho o está enganando. Ouvi-o dizer ao P. J. que mudou o mapa e que você vai levá-lo a Los Angeles. Você tentou, Pateta, mas ele não tem jeito mesmo.

Pateta não acredita em Bafo. Diz que não precisa olhar o mapa, pois confia em seu filho. E responde:

- Max pode não ser tudo o que você espera de um filho, mas ele me ama.

Bafo retruca:

- Mas meu filho me respeita!

Está clara a linha que divide as relações. P. J. pode até amar o pai, mas não o respeita: tem medo dele. Bafo insiste com Pateta para que veja o mapa. Ele fica tentado a fazê-lo. Entra no carro, olha para o porta-luvas. Hesita. Mas o faz, enfim, e fica tão decepcionado que vai para a cama sem falar com o filho. Max pensa que o pai está chateado com a bagunça que ele e P. J. fizeram no quarto.

Na manhã seguinte, Pateta e Max retomam a viagem, sob silêncio tumular. Próximo a um entroncamento, Pateta devolve o mapa a Max e diz-lhe que basta seguir a rota. Califórnia, à esquerda; Idaho, à direita. Pateta pressiona o filho sobre que direção seguir. Max, desesperado, grita para virarem à esquerda. Pateta tem, então, a confirmação do que lhe dissera Bafo. Fica furioso, mas nada diz. Não reage às investidas de Max, que compreende que o pai já sabe da artimanha. O garoto sugere uma música (esquecendo-se do que houve ao toca-fitas), uma brincadeira. Pateta para num acostamento e deixa o carro. Vai até a mureta. Max se aproxima e tenta conversar sobre o trajeto. Pateta lhe dá as costas. Está muito decepcionado. Max se afasta, retorna ao carro, chuta uma das rodas e encosta na lateral. No entanto, Pateta esquecera-se de puxar o freio de mão e o carro desce estrada abaixo, numa encosta montanhosa. Ambos, pai e filho, seguem em desabalada carreira, para recuperar o veículo, discutem e vão parar num rio. Sobre o capô do carro, quase totalmente submerso, Pateta fala sobre o telefonema do diretor da escola. Max diz ao pai que deveria tê-lo deixado em casa, que não queria fazer a viagem.

- Para você acabar na prisão? - retruca Pateta.

- Eu não sou mais um garotinho, pai! Eu cresci. Eu tenho a minha própria vida, agora!

E então Pateta dá ao filho a resposta que vale o filme:

- Eu sei disso. Eu só queria fazer parte dela. Você é meu filho, Max. Não importa o quanto cresça, sempre será meu filho.

Passam um longo tempo em silêncio. Até que Max fala a Pateta sobre seu amor por Roxane.

- Quem diria, meu Max apaixonado. - surpreende-se Pateta.

Os filhos crescem e os pais não percebem. Aos olhos dos pais, os filhos serão sempre crianças. Mas nada como um diálogo franco, em que pais e filhos falam abertamente sobre sonhos, medos, desejos, conquistas, frustrações, fracassos. Pateta decide ir ao show do Powerline com o filho. Mas, a essa altura, ainda sobre o capô do carro, ambos rumam em direção a uma cachoeira. Em meio à correnteza, Pateta tenta salvar o filho, mas é Max quem o salva fazendo uso da vara de pescar: fisga-o com um arremesso perfeito. Ambos se abraçam e está claro o amor que os une. Lindo, lindo.

Pateta e Max chegam aos bastidores do show, em Los Angeles. Outra confusão se forma. Max foge de um segurança, enquanto um choque leva Pateta acidentalmente ao palco. Max sinaliza para que Pateta faça os movimentos do arremesso perfeito e dance ao lado de Powerline. A plateia delira. Mas Max não tarda a chegar ao palco. Pai e filho dançam ao som do ídolo pop. A garotada da escola os veem na TV. Bobby e P. J. se orgulham. Roxane se enternece. Até Bafo está diante da TV, mas não acredita no que vê.

Quando retornam para casa, Max e Pateta param diante da casa de Roxane, embora não se saiba como o carro chegou ali. É um mistério. Ou um milagre. Max decide dizer a verdade a amada. Confessa-lhe ter mentido e surpreende-se quando ela diz que já gostava dele, desde a primeira risada. Os apaixonados ficam bem e Max acaba por apresentar Roxane ao seu pai, com imenso orgulho.

Sem dúvida, uma animação imperdível, de roteiro maravilhoso, para encantar a família. Pateta, o filme está disponível no NETFLIX.

Intervalo Rio recomenda!

(Francisco Filardi)

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