terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

VACINAR É PRECISO

 Pelos erros dos outros,

 o homem sensato corrige os seus.


                (Oswaldo Cruz, médico sanitarista
                e epidemiologista brasileiro, 1872-1917)

 

Desde o início da pandemia da Covid-19, o povo brasileiro se vê atormentado pela procrastinação do governo federal na aquisição e entrega das doses da vacina aos postos de saúde, pelas aceleradas taxas de transmissão da doença, pelo avanço das variantes do vírus, pelo elevado número de mortes e pelos altos e baixos das diferentes esferas de governo quanto às medidas de distanciamento social; somados a isto, uma enxurrada de fake news na internet e o entra e sai de ministros da saúde. Então, é natural que essa dificuldade de alinhamento decisório resulte num significativo número de pessoas desnorteadas. O que não cabe, sob qualquer pretexto ou hipótese, é haver confusão entre uma questão crítica de saúde pública e o uso político das vacinas.


O contexto exige firmeza (de posicionamento e atitude), tanto do governo quanto da população; assim, faz-se urgente e necessário minar a resistência de pais e/ou mães no que tange à vacinação de seus filhos. Uma eventual reação ao agente imunizante, o falecimento de cidadãos já vacinados ou o fato de esta ou aquela autoridade hastear bandeira contra, não devem servir de justificativa para a desconfiança ou mesmo para a inércia de uma parcela dos cidadãos. Vale lembrar que, ao longo da história da humanidade, milhões de pessoas foram varridas do mapa por epidemias e pandemias, até que a ciência produzisse vacinas de eficácia comprovada para o controle ou a erradicação de doenças graves, como a poliomielite, o sarampo, o tétano, a difteria e a varíola, entre outras.


O jornal Correio Brasiliense publicou, em 13/12/2020, matéria assinada por Camilla Costa e Cecilia Tombesi (com colaboração de Analía Llorente)1, da BBC News Brasil em Londres, contendo um gráfico comparativo do tempo que a humanidade levou para pesquisar e aprovar vacinas contra a dengue (112 anos), a coqueluche (42 anos), a meningite (92 anos), o sarampo (10 anos), a hepatite B (16 anos), a poliomielite (47 anos) e a tuberculose (45 anos), entre outras, com destaque para o tempo recorde de apenas 10 meses que empresas como a Pfizer e a BioNTech levaram para desenvolver a primeira vacina contra a Covid-19.

 

 

Se a eficiência da comunidade científica não for suficiente e bastante para dobrar os céticos, sugerimos a leitura do parágrafo primeiro do artigo 14 da Lei n° 8.069, de 13/07/1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. O texto legal estabelece que “É obrigatória a vacinação de crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.


Nós, pais, não temos o direito de interferir num direito dos nossos filhos. A vida de uma criança, de um adolescente, ou de quem quer que seja, não é um jogo; em sã consciência, nenhum pai ou mãe arriscaria a vida de um filho, para ver quem está blefando. A Lei é cristalina: o pai ou a mãe que contrariar o referido dispositivo legal poderá (e deverá) ser denunciado(a) por negligência

 


Em tese, não precisaríamos de um cenário de pandemia para nos fazer lembrar que a vida é nosso bem primeiro, o maior de que dispomos. E, pensando bem, é absurdo necessitarmos de uma Lei que imponha aos pais o cumprimento de uma obrigação que lhes é devida, exatamente pelo fato de serem pais. Interferir, pois, na vacinação dos filhos, crianças ou adolescentes, é um ato irresponsável que coloca em xeque o futuro ou ainda a existência destes. 

(Filardi) 

P.S.: texto publicado originalmente em O Antissocial n° 5, em janeiro 2022.


1 https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2020/12/4894660-grafico-mostra-tempo-que-humanidade-levou-para-criar-vacinas-e-recorde-para-covid-19.html

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