Marcolino tinha trinta e oito anos.
Era pobre, bem humorado e bom de coração. Era o terceiro dos cinco
filhos de seu
Nelson e de dona
Joaninha. Morava num barraco, no centro da cidade, e desde menino
trabalhava para ajudar no sustento da família. Seu pai era pedreiro;
já a mãe, costurava para as senhorinhas de Copacabana. Não
frequentara
escola. Da mesma forma que seus pais, e
outros tantos milhões de brasileiros, Marcolino engrossava
a estatística dos que não
aprenderam
a ler.
Jamais tivera emprego fixo. Fora
ajudante de pedreiro (por intermédio do pai), ajudante de
caminhoneiro, engraxate, carregador, entregador de pizza e até
catador de lixo. Fazia um servicinho aqui e ali, mas nada que durasse
o bastante para fazê-lo pensar no futuro. Não faz muito, arranjou
um “bico” como entregador de marmitas, na pensão da dona
Celeste, viúva do velho Fagundes, festejado comerciante local.
Passara a trabalhar perto de
casa e descobrira,
não longe dali, um prédio em construção, num terreno que
permanecera anos abandonado. Foi lá, em meio a peões famintos, onde
Marcolino fizera
sua clientela.
Não era de muitos amigos.
Mantinha-os, até, a certa distância. Ainda assim, não passara
despercebido dos boas praças Antônio Carlos e Ananias o estranho
vício com que atormentava a vizinhança: Marcolino tinha verdadeiro
fascínio por botões. Não, ele não jogava futebol de botões com
seu avô. Ele apertava
botões.
Não, ele também não se dedicava à costura, a exemplo da mãe. Na
verdade, ele não podia deparar
com
botões de elevadores (os porteiros dos condomínios costumavam
expulsá-lo das intermináveis “viagens”...), de alarmes
(enlouquecia os atendentes da polícia e do Corpo de Bombeiros),
interfones, telefones públicos, campainhas das casas próximas (uma
confusão daquelas), até descargas em banheiros de centros
comerciais! E não dava a mínima para a cor dos botões. Azuis,
vermelhos, verdes, alaranjados, não faziam diferença. Todo botão
que pudesse ser pressionado dava uma coceirinha na vontade (e nos
dedos) de Marcolino.
Certo dia, ia já
deixando o terreno da construção, após entregar
as
marmitas,
quando avistou uma mesa de jogo improvisada, com as cartas ainda
espalhadas. Concluiu que o jogo fora interrompido pelo término do
horário de almoço da peãozada.
E foi lá bisbilhotar. Reconhecera as cartas, embora não
identificasse o tipo de jogo que divertira os rapazes da obra. Foi
quando os olhinhos de Marcolino brilharam. Sobre a mesa abandonada,
encontrou um objeto em formato retangular, pouco maior que seu
radinho de pilhas, tendo um botão cinza ao centro. Não teve
dúvida: tomou o objeto nas mãos e apertou o botão. Era um
detonador.
finalizado a 21.12.2015
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