Apresentação de Alberto da Costa e Silva
A
literatura brasileira está repleta de obras em prosa romanceando
acontecimentos históricos. Desde a viagem de Cabral e o estabelecimento
dos primeiros colonos nesta terra, até ficções sobre fatos recentes,
como os governos militares, há inúmeros romances e contos. Mas são
poucas as obras poéticas que se arriscam a semelhante tarefa. Uma das
exceções, e por certo uma das mais brilhantes, é o Romanceiro da Inconfidência, iluminado pela poesia altíssima de Cecília Meireles.
O
poema (na verdade formado por vários poemas que também podem ser lidos
isoladamente) recria os dias repletos de angústias e esperanças do final
da década de 1780, em que um grupo de intelectuais mineiros sonhou se
libertar do domínio colonial português, e o desastre que se abateu sobre
as suas vidas e a de seus familiares.
Utilizando
a técnica ibérica dos romances populares, atenta aos autos do processo,
às cartas, aos testamentos, à pintura, às modinhas, às estátuas dos
profetas de Aleijadinho, a poetisa recria com intensa beleza o
cotidiano, os conflitos e os anseios daquele grupo de sonhadores. Diante
dos olhos do leitor surgem as figuras de Tomás Antônio Gonzaga, o
apaixonado de Marília, e de Cláudio Manuel da Costa; e, sobressaindo-se a todos, o perfil impressionista de
Tiradentes, retratado como um Cristo revolucionário, tal a imagem que se
modelou a partir do século XIX e se impôs até nossos dias. A
idealização preenche lacunas históricas e enriquece o poema.
286 páginas - 9ª edição, Global Editora, São Paulo, 2012.
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