CORROSÃO
(versos para uma estranha)
Houve um tempo em que o sol
resplandecia e as flores desabrochavam
a exalar o aroma da certeza.
O futuro estava em toda esquina.
Tempo em que o sonho era um delírio:
atraente mistura de enlevo e abraço
a acalentar-nos em suave torpor.
(Era seguro caminhar por entre as nuvens).
Mas esse era um pretérito imperfeito,
terreno movediço que nos engolia:
câncer a devorar-nos o corpo,
rotina a corroer-nos a alma.
Em verdade, o pretérito é mais-que-imperfeito,
um subjuntivo que nos desatina o presente.
Somos estranhos com tantos “se” e “porquês”,
Fomos estranhos como duas paralelas...
Daí a intensidade do estilhaço,
a lâmina fria da indiferença (tua),
o calor ácido da discussão (nossa),
a verdade (crua), a ânsia trêmula,
o rasgo, vaso que se rompe:
a agonia, a morte, o nada.
O que me resta são paredes vazias
e as migalhas do (teu) pão
que não mais desejo comer.
01/10/2011
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