Em maio deste ano, a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo divulgou os resultados de sua pesquisa anual sobre mercado brasileiro de informática e uso nas empresas.
Segundo o apurado, há 56 milhões de computadores em uso no Brasil, considerando os ambientes doméstico e corporativo. A Microsoft domina as estações de trabalho nas empresas, com o sistema operacional Windows, o navegador Internet Explorer e a suíte de escritório Office, com 92% de alcance. Já o Linux atinge a marca de 19% de participação nos servidores corporativos.
O que há de relevante nesses percentuais?
Antes de responder a questão, destacarei algumas vantagens e desvantagens no uso desses sistemas operacionais e também as razões que levam os usuários a preferir um ao outro. Os dados abaixo foram colhidos em uma breve pesquisa junto aos meus correspondentes e também a partir de minha experiência com esses sistemas.
POR QUE AS PESSOAS USAM WINDOWS?
- vem instalado na esmagadora maioria dos computadores domésticos (desktops) e computadores portáteis (notebooks);
- interface amigável e facilidade de configuração;
- ampla compatibilidade com periféricos.
DESVANTAGENS DO WINDOWS
- instabilidade (conflitos de software, funcionamento errático, "bugs" - travamentos, "tela azul da morte");
- preço elevado do sistema operacional leva usuários a optar pela cópia contrafeita (não autorizada), sem garantia para o produto e para a segurança de dados pessoais;
- a suíte de aplicativos de escritório (Microsoft Office) é comercializada separadamente do sistema operacional, também a preço elevado;
- além de inacabado, com falhas críticas de segurança que o deixam exposto aos chamados "malwares" (vírus, cavalos de tróia, worms, bots e outras pragas), o Windows é uma plataforma “paquidérmica”, que exige demais do hardware a cada versão.
POR QUE AS PESSOAS NÃO USAM LINUX?
- desconhecimento do sistema operacional;
- ostensiva campanha de marketing favorável ao Windows;
- restrito número de publicações segmentadas sobre o Linux;
- o usuário teve contato com alguma distribuição Linux, mas não se interessou no uso por considerá-la “difícil”;
- o usuário teve contato com uma distribuição Linux não recomendada para iniciantes (a exemplo do Slackware).
VANTAGENS DO LINUX
- sistema operacional completo, com suíte de aplicativos de escritório e vasto repositório de programas integrado ao sistema operacional, totalmente gratuito, livremente distribuído e operacionalizável em qualquer idioma;
- interface gráfica amigável e próxima do Windows, o que, em tese, facilita a migração;
- roda em qualquer computador, inclusive em máquinas antigas;
- a maioria dos aplicativos e programas que rodam no Windows encontra correspondentes no Linux;
- estabilidade, praticidade e funcionalidade;
- sistema livre da “neurose” provocada pelo combate às pragas virtuais;
- ampla documentação e mecanismos de orientação aos usuários oferecidos pelas comunidades desenvolvedoras, como fóruns, e-mails, canais de chat etc.
DESVANTAGENS DO LINUX
- incompatibilidade com determinados periféricos (impressoras, scanners, leitores de códigos de barra etc);
- algumas instruções são feitas por comandos no terminal (como no DOS);
- os fabricantes de periféricos compatíveis com Linux não fazem referência ao sistema operacional em seus manuais de produto, como a HP, por exemplo.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
É claro que existem outros prós e contras de ambos, mas o objetivo aqui não é determinar qual o melhor sistema operacional. O melhor sistema é aquele em que o usuário se sente confortável em usá-lo. Não existe “o melhor” nem “o pior”, nem “o mais fácil” nem “o mais difícil”. Mas as máximas "o barato sai caro" e "o caro é sempre melhor" não se aplicam à oposição Linux X Windows.
É preciso muito cuidado quando ouvimos falar em Linux, porque esta é, grosso modo, uma “designação genérica”. Sem adentrar pela explicação técnica, há mais de cem distribuições Linux, sejam estas primitivas ou derivadas, desenvolvidas em todo o mundo – só no Brasil há cerca de vinte, cada qual com características e particularidades próprias. Alguns dos leitores já ouviram falar em Red Hat, Slackware, Fedora, Open Suse e sabem se tratar das mais tradicionais e longevas distribuições Linux. Mas há que se dizer que algumas destas não são recomendadas para iniciantes enquanto outras facilitam muito a migração (desde que o leitor se predisponha a “mergulhar” no aprendizado do sistema).
Se os leitores ficaram desanimados em saber que terão de recomeçar praticamente do zero, faço-lhes outra pergunta: o quê havia antes do Windows? DOS (Disk Operating System). Lembram? E antes dos DOS? Basic, Cobol, Fortran. Lembram? E antes disso? Não lembram? Para os usuários domésticos, o limbo. Ou seja, antes da revolução proporcionada pelo sistema operacional da Microsoft (o Windows 3.1 no caso), os usuários tiveram que se adaptar a uma nova realidade, ou seja, tiveram que aprender a operar o sistema. Logo, julgar que o Windows “é mais fácil” se trata de uma ótica limitada e distorcida.
Então, por que não se permitir aprender a trabalhar com um sistema que lhe pode oferecer praticamente tudo, sem custo, com segurança, estabilidade e confiabilidade?
Vamos agora voltar à questão inicial: o que há de relevante nos percentuais apresentados na pesquisa da FGV-SP?
A esmagadora participação do Windows nas estações de trabalho encontra explicação no tom agressivo e quase monopólico das relações comerciais da Microsoft. Conforme citado, a maioria dos computadores e notebooks saem de fábrica com o Windows instalado. Isto quer dizer que resistir a esse estado de coisas deve partir da vontade do usuário e não da do mercado. O cerne da questão é que o mercado atua diretamente sobre a enorme dificuldade dos usuários em abandonar sua “zona de conforto”, o que os faz seguir a cartilha religiosamente, tornando-os “reféns”. Um exemplo é que a Microsoft, entre outras decisões, obriga o proprietário, seja do sistema operacional seja da suíte de aplicativos de escritório, a contatar a empresa para "ativá-los". E os usuários desses softwares consideram a prática “natural”. Mas a lógica de uma prática “natural” não seria considerar que o proprietário é aquele que detém 100% de decisão sobre o bem apropriado?
Já os 19% de participação do Linux nos servidores merecem destaque por uma razão específica: servidores são os principais alvos dos “crackers”, os invasores de sistemas. Pode não parecer, mas esses 19% são extremamente significativos, porque indicam uma curva ascendente em relação às pesquisas anteriores.
Governos estaduais, como o do Rio Grande do Sul, e órgãos públicos a exemplo do TSE (com as urnas eletrônicas utilizadas nas Eleições 2008) passaram a utilizar o Linux por sua segurança e também pela vantajosa relação custo X benefício (visitem o Portal Software Livre e leiam sobre as políticas de incentivo do governo federal ao uso do software livre).
Se por um lado o Windows é prático e bonito, por outro o Linux é estável e seguro (e não menos bonito). O maior desafio, independente da decisão de manter ou migrar de sistema operacional, será o usuário se conscientizar de que não basta a ele ser usuário. Ele deverá manter-se “íntimo” da máquina de tal modo que compreenda o seu funcionamento como um todo. Trata-se de um princípio elementar: quanto maior o conhecimento agregado, melhor o domínio sobre as contingências.
A MINHA EXPERIÊNCIA
Na edição de abril deste ano da Revista INFO Exame, li o texto “Virei fã do Ubuntu” de John Dvorak, no qual o articulista elogia o sistema. Como já há algum tempo buscava uma alternativa viável de sistema operacional, adquiri “O livro oficial do Ubuntu”, baixei cópia do sistema na internet e “caí dentro”. Desde que comecei a “xeretá-lo”, em maio, tornei-me não só um entusiasta, mas fã do sistema. Minha adaptação até foi rápida. Em três meses já o estava utilizando com certa desenvoltura. É claro que o começo não foi fácil. Não foi só questão de me adaptar a um novo sistema, mas a toda uma terminologia e também às particularidades do seu funcionamento. E como todo processo de aprendizagem requer continuidade, venho pesquisando, buscando e apanhando. Mas aprendendo. E tão importante quanto, encontrei um caminho: Windows nunca mais.
Francisco Filardi
Um problema fatal do Linux é o fato de alguns programas que rodam no Windows não rodar nele. Eu acho que isso é o que faz muita gente torcer o nariz pra ele. O dia que tudo o que rodar no windows rodar no linux aí sim vai haver uma corrida "quase em massa" para essa plataforma, o fato do layout ser menos bonito não vai fazer muita diferença.
ResponderExcluirHá no Linux um "emulador" chamado Wine, que serve para executar programas do Windows. Mas nunca o configurei ou o utilizei. Também não pesquisei quais programas esse "emulador" consegue rodar. Mas fica aí a dica.
ResponderExcluirSó tentando esclarecer ... a ideia em adotar o linux (ubuntu ou qualquer outra distro) é justamente não usar programas para windows. O wine até quebra um galho nesta questão, mas toda vez que realmente precisei dele, ele me abandonou :-)
ResponderExcluirPrecisei dele para rodar uma versão do AutoCad, ele não rodava. Precisei dele para rodar programas da receita federal, ele rodava mas não a contento.
Ao meu ver, as empresas desenvolvedoras simplesmente acham que desenvolver para linux, significa largar o osso da licença proprietária. Significa deixar de ganhar uma grana grande com licença. Sendo que uma coisa não invalida a outra.
Já o usuário final, só usa windows mesmo pq vive em função de programa pirata. Eu duvido que eles usassem windows se tivessem que pagar por toda a licença de todo software que eles usam.