Foi Douglas quem apareceu com a
novidade. E Samuel, seu amigo de infância, o primeiro a saber.
Assim que o amigo chegou a sua casa, fez as apresentações. Havia
adotado um cachorrinho da raça pug, a quem batizara de
Bisnaga. Bisnaga! Isso lá é nome de cachorro? Foi o que perguntou
Samuel a si mesmo, assim que deu de cara com o bicho. De fato, não.
Mas explica-se: o recém-chegado alcançava o Nirvana só de sentir
o cheiro de pães franceses saídos do forno. O canino era tão cara
de pau que não resistia a um francesinho na manteiga! Isso era tão
sério que, mal chegava da padaria, Douglas tinha que dar um pãozinho
ao Bisnaga, antes mesmo de pôr a mesa para o lanche, tal a
impaciência do bicho. Foi devido a essa nobre esganação que
Douglas deu ao pug um nome a ver com a grandeza de seu
apetite, não com o porte. Mas o nome não era o problema do
bichinho.
Logo que Samuel se acomodou num canto
no sofá, Bisnaga, que estava sobre uma almofada, no extremo oposto,
levantou a cabeça e, com os dentes à mostra, rosnou para o intruso,
num claro sinal de que não o desejava ali. Mas a coisa ficou
nisso, é bom que se diga. Bisnaga não era chegado a implicâncias,
muito menos a brigas. Nada tirava a sua paz, desde que não o
incomodassem naquele canto mágico do sofá. Samuel bem que tentou,
mas não conseguiu convencer o Bisnaga de que estava ali em
missão de paz.
- Seu cachorro está com defeito,
Douglas! - provocou Samuel.
- Defeito?! - estranhou o amigo.
- É! Ele não é lá muito certo da
cabeça... rosna o tempo todo!
- Não, Samuel. No geral, ele é
sossegado. Gosta desse canto do sofá - disse Douglas, apontando com
o queixo -, onde se deixa afundar na almofada. Acha que o sofá é
só dele. Até comigo ele, às vezes, implica!
Foi quando Samuel teve a ideia:
ergueu a cabeça na direção do teto, encheu os pulmões e soltou um
uivo, daquele que os lobos soltam para a lua. Bisnaga, que tinha os
olhos fixos no estranho, arregalou olhos e orelhas. Inclinou também
a cabeça para o alto e fez coro. Samuel uivava de cá, Bisnaga
uivava de lá. Assim nasceu uma longeva amizade. Quem não gostou
da brincadeira foi Douglas, que desde então tem que aguentar aquele
duplo uivado no sofá, todo fim de semana. Haja!
(de Francisco Filardi, finalizado em 21/06/2017)